o setor de cana-de-açúcar, a expectativa de parte de agentes do mercado é que a reestruturação da Cosan diminua a pressa que a Raízen vinha tendo para vender seus ativos
A capitalização de até R$ 10 bilhões da Cosan, que incluirá um aporte relevante do BTG, não apenas equaciona a pressão da dívida sobre a holding de Rubens Ometto como pode reduzir, em alguma medida, a velocidade dos planos de desinvestimentos de suas controladas, notadamente a Raízen.
Na indústria de cana-de-açúcar, a expectativa de parte de agentes do mercado é de que a reestruturação da Cosan possa diminuir a pressa que a Raízen vinha tendo para vender seus ativos — usinas ou apenas canaviais — para, com isso, gerar caixa, pagar dívidas e ainda apoiar a controladora. Procurada pelo Valor, a Raízen não comentou.
A Raízen já vendeu duas usinas em Mato Grosso do Sul e uma usina em São Paulo, além de canaviais que serviam à Usina Santa Elisa e à Usina MB. Em junho, o Valor antecipou que, além dessas unidades, a Raízen também estava negociando a venda da Usina Continental, em São Paulo, que ainda segue sob o controle do grupo. No mercado, os comentários são de que qualquer outra usina também pode ser negociada, a depender do preço.
Para outras empresas do segmento que também estão vendendo usinas de cana-de-açúcar, a presença maciça da Raízen no polo vendedor do mercado gera uma pressão. Segundo um gestor, que preferiu não ser identificado, a companhia estava colocando à venda suas usinas com uma “cabeça de geração de caixa” para pagar dívidas, e não de geração de valor econômico.
E, segundo ele, isso vinha pressionando os “valuations” de forma geral, e não só das usinas da Raízen. Nas operações realizadas pela Raízen, os valuations das usinas giraram em torno de US$ 40 a US$ 50 a tonelada de cana.
Para esse gestor, com a reestruturação da Cosan, as investidas da holding não precisarão ter pressa para, além de gerar caixa para quitar suas dívidas, pagar dividendos para melhorar a situação da controladora.
Já Gabriel Barra, analista do Citi, afirma não acreditar que a capitalização da Cosan “influencie a discussão sobre Raízen”. “São discussões separadas”, avalia. Ontem, em teleconferência com analistas, a direção da Cosan disse que os R$ 10 bilhões de capitalização não serão utilizados para apoiar suas controladas.
Um gestor que tem posição comprada na Cosan afirmou ao Valor, sob condição de anonimato, que também enxerga um efeito de redução da pressão sobre a Raízen. Ele ressaltou, porém, que a companhia de combustíveis ainda terá de receber recursos para reduzir o peso de sua dívida, uma vez que as perspectivas para os mercados de açúcar e de etanol não são de recuperação de preços no curto prazo.
Atualmente, há empresas do setor sucroalcooleiro em recuperação judicial que ainda tentam vender seus ativos via leilões, além de alguns casos específicos, como o da Bunge, que acabou assumindo duas usinas de cana no Brasil após a aquisição global da Viterra, mas que não tem a intenção de seguir com esses ativos no longo prazo.
Ricardo Pinto, da consultoria RPA, acredita que a perspectiva para os valuations no segmento não é alta. “Os preços de açúcar e etanol estão em baixa, e sem perspectiva de recuperação”, observou. Além disso, muitas usinas enfrentam quebra de produção decorrente da seca do ano passado e aumento de custos, o que tende a apertar as margens. E, com isso, a tendência é que a pressão para venda de ativos cresça. “Os valuations podem cair mais”, comentou o analista (Globo Rural, 23/9/25)