- Unidade da NetZero será construída na cidade de Campina Verde e começará a operar em fevereiro de 2026
- Para a empresa, a cana é a maior fonte agrícola de matéria-prima para o biocarvão
A startup francesa NetZero, especializada na captura de carbono graças ao biochar, um carvão à base de resíduos vegetais, anunciou nesta terça-feira (16) a construção de uma nova fábrica de produção no Brasil, pioneira no uso de cana-de-açúcar como insumo.
Após instalar cinco fábricas do também chamado biocarvão que utilizam restos de café, uma em Camarões e quatro no Brasil, a nova unidade da NetZero será construída em Campina Verde, no estado de Minas Gerais, e começará a operar em fevereiro.
O objetivo é utilizar resíduos de cana, amplamente disponíveis na região, para produzir este produto, considerado um meio promissor para capturar CO2 e regenerar os solos graças à sua porosidade, explicou a empresa.
“Somos os primeiros a registrar junto ao Ministério da Agricultura do Brasil como um meio para melhorar o solo”, destacou Olivier Reinaud, diretor-geral da NetZero.
A unidade produzirá inicialmente cerca de 4.000 toneladas por ano de biocarvão, obtido através da queima em temperatura muito elevada dos resíduos vegetais.
O processo é conhecido como pirólise e permite extrair o carbono armazenado pelas plantas ao longo de sua vida, para mantê-lo capturado para que não retorne à atmosfera e contribua para o aquecimento global.
As vantagens permitiram, nos últimos cinco anos, o financiamento com créditos de carbono, o que abre caminho para mais projetos, segundo os idealizadores da medida.
Abrirá “o caminho para um crescimento forte”, afirmou a NetZero, fundada em 2021 por Reinaud, seu pai Axel e o climatologista Jean Jouzel, entre outros.
Segundo a empresa, a cana-de-açúcar constitui a maior fonte agrícola de matéria-prima para o biocarvão, com 700 milhões de toneladas de resíduos gerados a cada ano em todo o mundo, dos quais o Brasil, maior produtor mundial, representa sozinho quase 40%.
A transformação em escala industrial, no entanto, continua limitada por sua complexidade técnica, já que as folhas e fibras da cana combinam umidade, baixa densidade e granulometria muito variável, explicou o empresário, que afirma ter desenvolvido uma tecnologia.
Os talos de cana serão fornecidos por uma importante empresa agrícola local, que depois utilizará o biocarvão em suas terras, garantiu Reinaud, cujo objetivo, destacou, é “industrializar o biocarvão nas zonas tropicais” (Folha, 17/9/25)