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Fechamento da Usina Santa Elisa marca o fim de uma era no setor canavieiro

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O anúncio divulgado na terça-feira (15/7) pela Raízen de que decidiu encerrar as atividades da Usina Santa Elisa, em Sertãozinho (SP) deixou a velha-guarda do setor sucroalcooleiro “atônita”, nas palavras de um experiente usineiro da região. A decisão representa não apenas um passo na estratégia de reestruturação da companhia ou uma reorganização do setor.

Representa, de fato, o fim de uma era de uma indústria de 89 anos, que refletiu os vários ciclos do setor canavieiro. E, mais ainda, foi uma ativa colaboradora da estruturação do parque industrial sucroalcooleiro nacional.

A Companhia Energética Santa Elisa foi comprada em 1936 pelas famílias Marchesi e Biagi, que foram as pioneiras da indústria de cana fora do Nordeste. Na década de 1970, ainda antes do Proálcool, os Biagi decidiram desativar a indústria original, que ficara obsoleta, e construir uma nova logo ao lado, com possibilidade de produção de açúcar e de álcool de uso industrial, que começou a operar em 1973, conta Sebastião Henrique Gomes, que foi o diretor-administrativo da usina de 1971 a 2008.

Em seguida, o governo Geisel encomendou a empresários do setor um plano de estímulo à produção de álcool carburante, para reduzir a dependência das importações de gasolina, que se tornaram proibitivas com o primeiro choque do petróleo. Foi quando o então dono da Santa Elisa, Maurílio Biagi, colaborou na elaboração do documento “Fotossíntese como fonte energética”, que ofereceu as bases para o Proálcool, relatou seu primogênito, Maurílio Biagi Filho, à edição de abril da Globo Rural.

Quando o programa engrenou, a Usina Santa Elisa foi, em 1978, uma das primeiras a construir colunas de destilaria que serviriam para a produção de álcool carburante, o etanol. Mas seu engajamento no Proálcool não se limitou a ajustes internos.

Construtora de usinas

Como os Biagi também eram donos da Zanini, que fabricava equipamentos para indústrias sucroalcooleiras, a Santa Elisa tornou-se uma “construtora de usinas”. “As equipes da Santa Elisa iam construir as usinas, implantavam canaviais. Muitas pessoas ficavam nas novas unidades”, lembra Gomes.

Entre as usinas construídas pelos Biagi com as equipes da Santa Elisa estão a Usina MB, em Morro Agudo (SP), que também foi desativada pela Raízen; a Usina Cevasa, em Patrocínio Paulista (SP), do grupo Cevasa; a Usina Continental, em Colômbia (SP), da Raízen; e as usinas Moema, em Orindiúva (SP), a usina de Itumbiara (GO), a usina de Ituiutaba (MG), e a Usina Tropical, em Edeia (GO), hoje todas da bp bioenergy.

Ao mesmo tempo, a Santa Elisa tornou-se um verdadeiro “campo de testes” das tecnologias que a Zanini desenvolvia para o setor. “A Santa Elisa tinha um campo de testes de novas tecnologias que o mercado trazia para serem aplicadas, o que fazia com que ela se mantivesse sempre com tecnologias avançadas”, relata Gomes.

O Proálcool deu musculatura à Santa Elisa, que virou um agente consolidador, adquirindo ativos de concorrentes e levando ao fechamento de outras usinas, como a São Geraldo e a Santa Lydia.

Relação afetiva

Para os Biagi, a Usina Santa Elisa tinha um significado afetivo. A casa da família situava-se dentro do parque industrial, e foi lá que Maurílio Biagi Filho nasceu e viveu os primeiros anos de sua vida. Procurado ontem, o empresário preferiu manifestar-se em nota. “Lá, vivi grandes momentos da minha vida: iniciei minha trajetória profissional atrás do balcão do armazém, passei por todos os setores, da indústria à presidência”, recordou.

No fim da década de 1980, quando surgiram crises que colocaram em xeque o Proálcool, a Usina Santa Elisa recebeu uma icônica coletiva de imprensa, na qual Biagi Filho acusou publicamente a Petrobras de não estar cumprindo seus compromissos de retirada de álcool dos estoques estratégicos.

Apesar da crise do programa, a Usina Santa Elisa, após várias expansões industriais e agrícolas, alcançou em 1998 um marco histórico, tornando-se a usina com maior moagem de cana do mundo à época, com mais de 7 milhões de toneladas. Em seu auge, empregou 4 mil funcionários de vários municípios, como Sertãozinho, Pontal, Pitangueiras, Barrinha e Morro Agudo.

Anos 2000

A era dos Biagi na Santa Elisa encerrou-se em 2009, quando a família, que acumulara dívidas em dólar, viu-se pressionada a vender o negócio com os efeitos da crise americana do subprime. Naquele ano, a usina passou para a Louis Dreyfus Company (LDC), que criou a empresa Biosev para gerir o negócio de açúcar e etanol.

Dali em diante, a usina teria deixado de receber investimentos significativos para atualizar seus equipamentos, que foram ficando ultrapassados, segundo fontes. A usina voltou a trocar de mãos em 2021, quando a Raízen comprou a Biosev (Globo Rural, 16/7/25)

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