
Taxa de juros pode adiar ou inviabilizar projetos, diz OCB; setor de máquinas avalia taxa positivamente.
Após o anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar para a safra 2025/26, o setor se manifesta de maneiras díspares.
A elevação da taxa de juros para 8% ao ano nos financiamentos da agricultura familiar pode adiar ou até inviabilizar projetos de investimento de longo prazo no setor. A avaliação é do coordenador do Ramo Agro do Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), João Prieto, que expressou preocupação com os impactos da medida para as cooperativas do campo, sobretudo aquelas voltadas à agroindustrialização e à agregação de valor na produção.
“Quem estava ali com seus projetos prontos, principalmente de longo prazo, uma expectativa de 6%, que era o que estava sendo praticado, quando a gente olha para 8%, como estamos falando de agricultura familiar, o pessoal vai ter que reavaliar para ver se é um projeto que cabe sair de imediato, se cabe uma espera um pouco maior”, afirmou Prieto. Segundo ele, a mudança de patamar nos juros pode levar muitas cooperativas a “voltar para a prancheta” para observar a viabilidade e até “estrangular” iniciativas em curso.
Embora o anúncio oficial não tenha detalhado as condições específicas para o cooperativismo agropecuário, Prieto relatou que, nos bastidores, havia a expectativa de uma elevação generalizada da taxa de juros de 6% para 8%. Isso, na visão dele, gera insegurança sobre a viabilidade de novos investimentos no atual cenário.
As declarações foram feitas após o governo federal divulgar nesta segunda-feira (30) um pacote de R$ 89 bilhões voltado ao apoio da agricultura familiar no país. Os recursos superam o montante divulgado no ano passado, o que foi reconhecido pelo presidente da OCB como um avanço. “Nós pedimos algo que superava os R$ 90 bilhões, mas cabe reconhecer o esforço do governo federal, da equipe econômica e do Ministério de Desenvolvimento Agrário para superar o que foi divulgado no ano passado, que refletiu no que está sendo praticado neste momento”, disse.
Ainda assim, Prieto destacou a importância de aguardar os detalhes do Conselho Monetário Nacional sobre os critérios de contratação e enquadramento dos projetos para que se possa avaliar, com maior clareza, se os investimentos planejados serão viáveis dentro das novas condições.
O presidente da Câmara Setorial de Agricultura da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão, avaliou como positiva a manutenção dos juros para o acesso às linhas de crédito para a agricultura familiar no Plano Safra 25/26, anunciado hoje pelo governo federal.
“De forma geral, o plano foi muito bom, porque ele [o governo] manteve o juro do ano passado, apesar de a Selic ter saltado de 10,5% para 15%”.
Para Estevão, com a manutenção desses juros, o governo reforçou as ações para tentar debelar a inflação dos alimentos no país. O dirigente também avaliou como positivo o aumento do acesso ao crédito dos pequenos produtores para a aquisição de máquinas, que passou de R$ 100 mil para R$ 150 mil. Uma medida, que segundo Estevão, pode estimular a indústria no país.
“Desde o ano passado estamos vendo esse estímulo, e as indústrias de máquinas têm feito adaptações, trabalhando com máquinas menores para atender justamente essas linhas de crédito. Há um trabalho intenso da indústria em elaborar essas máquinas para os pequenos produtores, que não são muitas”, afirmou (Globo Rural, 30/6/25)
Plano Safra 25/26: Agroindústria e cooperativas terão juros de 8% ao ano

As linhas do Pronaf destinadas a agroindústrias e cooperativas da agricultura familiar terão juros elevados de 6% para 8% ao ano no Plano Safra 2025/26. Os limites de financiamentos foram mantidos.
No caso do Pronaf Industrialização, o empreendimento familiar rural terá limite mantido em R$ 250 mil.
Cooperativas singulares terão os mesmos R$ 33 milhões da safra 2024/25. Para as cooperativas centrais o teto de financiamento ficará em R$ 55 milhões. Em todas as categorias, o prazo de reembolso é de 12 meses.
No caso do Pronaf Agroindústria, os investimentos de pessoas físicas terão o limite de R$ 210 mil. Empreendimentos familiares terão teto de R$ 450 mil no ciclo 2025/26. Cooperativas terão limite de R$ 50 milhões. No caso do Pronaf Cotas-Partes, o limite das cooperativas é de R$ 55 milhões (Globo Rural, 30/6/25)