Por Ronaldo Knack

Na década de 60 meu pai, filho de imigrantes alemães, que aos 14 anos embarcou para a Alemanha onde estudou e se formou em engenharia mecânica e só conseguiu retornar de lá após o final da 2ª Grande Guerra, quando desembarcou em Porto Alegre acompanhado de minha mãe grávida e de um filho de 4 anos, reuniu a família para mostrar alguns grãos de soja que recebera de Nestor Jost, à época diretor da Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil.
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“A soja alavancará a agricultura brasileira”, dizia Nestor Jost, que chegou a ocupar o Ministério da Agricultura no governo João Figueiredo. Em 2009, durante a gravação de entrevista para o TV BrasilAgro de Otávio Melo Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura no Rio de Janeiro, vi uma foto de Nestor Jost ao lado da diretoria da entidade. E fiquei sabendo que ele era conselheiro da SNA e gozava de boa saúde.
Quando contei a história de meu pai que fora amigo de Nestor Jost, Otávio Alvarenga pediu licença e por alguns minutos deixou a sala de reuniões onde estávamos gravando. Ao retornar, ele convidou a mim e a nossa equipe, para almoçarmos com ele. Por volta do meio dia, terminamos a gravação e nos dirigimos a uma sala onde seria servido o almoço. Quando chegamos ao local, para minha surpresa, Nestor Jost, que à época tinha 92 anos, já nos esperava.
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Ganhei dele um afetuoso abraço e fiquei feliz quando disse ter boas recordações da amizade que tinha com meu pai. Antes do almoço, tomamos juntos algumas doses de cachaça orgânica e no almoço a bebida servida foi vinho tinto produzido na região vinícola do Rio Grande do Sul. Após o almoço gravamos entrevista com Nestor Jost e quem teve a oportunidade de assisti-la, conheceu um pouco da história e da odisseia da soja em terras brasileiras e da importância da Embrapa com sua tecnologia desenvolvida para produzi-la no cerrado.
Em setembro de 2014, organizamos em Porto Alegre através do BrasilAgro e de um instituto de educação do Rio Grande do Sul, evento que reuniu os ex-ministros da Agricultura Cirne Lima, Francisco Turra, Pratini de Moraes e Roberto Rodrigues. Alysson Paolinelli, havia confirmado presença, mas na véspera sofreu uma queda em sua residência em Brasília e não pode estar conosco. O objetivo do evento era usar da experiência dos ex-ministros para formular sugestões aos candidatos que disputariam as eleições presidenciais que acabaram dando à Dilma Rousseff seu 2º mandato.
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Ao gravar entrevista de Cirne Lima para o TV BrasilAgro, pedi que ele contasse como se deu a implantação da Embrapa enquanto ele ocupava o Ministério da Agricultura. “Fui chamado ao gabinete do então presidente Emilio Garrastazu Medici e me pediu sugestões para ocupar a região do cerrado do Centro Oeste e também do entorno da região amazônica. Haviam sinais de que o governo americano estaria articulando ações para tomar posse e ocupar estas regiões”.
Cirne Lima, que assumiu o Ministério da Agricultura com apenas 36 anos de idade, já vinha mantendo reuniões com a equipe coordenada por José Pastore que culminou com a criação da Embrapa. Vale registrar o excelente depoimento publicado ontem no BrasilAgro (https://www.brasilagro.com.br/conteudo/jose-pastore-conta-a-historia-da-embrapa-que-ninguem-contou.html) “José Pastore conta a história da Embrapa que ninguém contou”.
A reunião de Medici e Cirne Lima criou o ambiente favorável para que o projeto, um dos mais importantes projetos de tecnologia agrícola do mundo, fosse viabilizado. Mas, segundo depoimento do ex-ministro da Agricultura ao TV BrasilAgro, o projeto só vingou com a ajuda dos então ministros da Fazenda Delfim Netto e do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso. Ambos se empenharam para que não faltassem os recursos para o projeto que resolveria dois problemas: a tentativa dos EUA em ocupar parte do território brasileiro e a criação da Embrapa.
Meses depois, tive a honra e a felicidade de gravar minha primeira entrevista com Delfim Netto e, na sequência também com o ex-ministro Reis Velloso. Ambos confirmaram a versão de Cirne Lima e reconheciam que a criação da Embrapa permitiu que o Brasil assumisse o protagonismo mundial na produção de alimentos, fibras e energias limpas e renováveis.
Portanto, o artigo “A Embrapa pede socorro”, de autoria do competente Xico Graziano (https://www.brasilagro.com.br/conteudo/a-embrapa-pede-socorro-por-xico-graziano.html) merece a atenção e a ação de todos. Com pouco mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil hoje produz alimentos suficientes para necessidades calóricas de aproximadamente 900 milhões de pessoas, equivalendo a 11% da população global.
A começar pelos articuladores e defensores do agro no âmbito político com as ações e atividades dos integrantes da FPA – Frente Parlamentar da Agropecuária (Ronaldo Knack é Jornalista e Bacharel em Administração de Empresas e Direito. É também fundador e diretor editorial do BrasilAgro; ronaldo@brasilagro.com.br; 13/2/25)