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Economia tem melhor triênio desde 2013 e mal sabemos o motivo da melhora

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Por Vinicius Torres Freire
Não sabemos o que levou o PIB a subir tanto e nem quanto tempo vai durar.

O crescimento da economia em um trimestre não era tão rápido desde 2013. Quem der uma olhada na tabela do IBGE pode dizer que o ritmo era mais rápido no segundo semestre de 2020. Mas isso é ilusão de ótica. A economia apenas se recuperava da paralisação provocada pela Covid-19.

É possível que o PIB (Produto Interno Bruto) deste 2024 cresça tanto quanto em 2013: 3%. Se for assim, o país terá tido também o melhor triênio desde o começo da Grande Recessão (2014-2016).

Nada disso estava nos prognósticos dos economistas. O crescimento do segundo trimestre deste 2024 foi muito maior do que o previsto. O crescimento de 2022 (3%) e 2023 (2,9%) foi escandalosamente maior do que o previsto (0,36% e 0,8%, respectivamente, ao final do ano anterior). Os erros vêm desde 2020. Mas, por causa da desordem da epidemia, é possível dar um desconto para as bolas foras de 2020 e 2021.

E daí? O IBGE não faz as contas do PIB para avaliarmos o “reality show” das previsões dos economistas. No entanto, três ou quatro anos de prognósticos tão errados sugerem que entendemos mal o que se passa na atividade econômica. Se o entendimento é precário, os diagnósticos de problemas também devem estar mais imprecisos.

Antes de prosseguir, diga-se que não está acontecendo milagre, mas o fim de uma depressão (2014-2022). Além do mais, em teoria, há indícios de que esses anos melhores de crescimento teriam limites.

Por exemplo, a taxa de investimento estava em 16,8% no segundo trimestre desde ano. Taxa de investimento: fatia dos recursos do PIB, da renda nacional, destinada à construção de moradias, infraestrutura, instalações produtivas, à compra de máquinas, equipamentos, softwares etc. Isto é, ao aumento da capacidade da economia de produzir mais bens e serviços.

Desde o ano 2000, essa taxa de 16,8% apenas não é menor do que a registrada nos anos do fim da Grande Recessão e antes da epidemia. Investimento baixo (oferta insuficiente) tende a resultar em alguma inflação ou também em déficit externo crescente (comprar mais no exterior aquilo que consumimos). Haveria ruído na medida do investimento? Ou o investimento seria agora mais eficiente?

taxa de desemprego está em 6,8%. Estaria tão baixa que poderia começar a provocar alguma inflação devida à alta de salários (por suposta escassez de mão de obra). A massa salarial (soma de todos os rendimentos do trabalho) está crescendo ao ritmo impressionante de 8% ao ano, em termos reais, já descontada a inflação. O salário médio cresce a uns 5% ao ano, ritmo maior do que o do final dos anos da bonança de commodities e crescimento (2012, 2013).

Há INDÍCIOS de que a alta de salários possa estar começando a bater na inflação. Mas já se previu que haveria problemas quando a taxa de desemprego estava em 8%. Salário e emprego crescem muito além das previsões faz anos.

Quais as mudanças recentes mais visíveis na economia? O petróleo. Avanço ainda maior do agro. Reformas microeconômicas desde 2017, de efeito difícil de medir. As medidas de produtividade média não indicam melhora. Isto é, potencial de crescer mais. Estariam também (mais) erradas?

Não dá para explicar as “surpresas” pelo aumento real do gasto público (13% ao ano até junho deste 2024), do agro, do petróleo. Isso tudo é estatística sabida. Mas, talvez por causa desses fatores, algo esteja acontecendo no miolo mais opaco da economia. Francamente, sabe-se lá o quê.

Enfim, é possível que períodos de gasto público muito acelerado (como agora) e/ou pouco eficiente terminem em contrações econômicas ruins (esse foi um dos fatores da Grande Recessão). Mas não é disso de que se trata aqui, do futuro, mas do passado recente.

No futuro imediato, em tese haveria uma desaceleração. As taxas de juros de mercado subiram, a Selic não vai cair tão cedo (se não subir um tanto). O gasto público vai crescer menos no ano que vem. Gasto das famílias, comércio, serviços já deram uma desacelerada —pontual?

O que se sabe é que a economia está no melhor ritmo trienal de crescimento desde 2013, 11 anos, e não soubemos nem o motivo disso nem quanto tempo a melhora vai durar (Folha, 4/9/24)

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