Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, nos últimos 30 anos, o mundo perdeu US$ 3,8 trilhões em produção agrícola e pecuária em consequência das catástrofes climáticas.
Eventos climáticos extremos: como ondas de calor e secas – estão dificultando a produção agrícola no mundo todo.
O problema do preço do azeite da sua salada, que está caríssimo, começa no clima dos países do Mediterrâneo: Grécia, Espanha, Portugal. Na Puglia, principal região produtora da Itália, a seca e o calor intenso castigaram as oliveiras. Ivano Gioffreda diz que a produção deve cair 50% e que o futuro ali é incerto.
A falta de chuva também prejudica os agricultores, os pecuaristas e até os apicultores no México. Adan Rescon é produtor de mel em Chihuahua, no norte do país. As abelhas dele não encontram mais vegetação nos campos; vão procurar pólen nas plantações e morrem com os pesticidas.
As temperaturas mais altas na Hungria estão deixando regiões que plantam uvas com clima tropical. E isso não é bom para a produção de vinhos. No Japão, o calor extremo ameaça as colheitas de arroz e até a saúde dos agricultores.
No Brasil, as enchentes no Rio Grande do Sul carregaram toneladas de terra fértil, e o solo vai ter que ser recuperado para uma nova safra de soja.
O mundo inteiro sente os efeitos das mudanças climáticas, e a agropecuária, que é uma grande indústria a céu aberto, é fortemente afetada. Uma estimativa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura calculou o impacto das catástrofes climáticas. Nos últimos 30 anos, o mundo perdeu US$ 3,8 trilhões em produção agrícola e pecuária – mais de R$ 21 trilhões.
Suely Araújo, do Observatório do Clima, diz que todos os países, inclusive o Brasil, devem reduzir as emissões de gases de efeito estufa – que vêm das indústrias, do transporte e, também, do agronegócio.
“O Brasil sabe trabalhar com agropecuária voltada ao baixo carbono. Então, nós sabemos o caminho: plantio direto, rotação de pastagens, abate do gado mais cedo, integração lavoura-pecuária-floresta. Tem caminhos para isso”, afirma Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima.
O pesquisador da Fundação Getúlio Vargas Felippe Serigati diz que as mudanças no clima não têm causado queda na produção mundial, mas já afetam a vocação agrícola de algumas regiões. Elas vão ter que cultivar outros alimentos. Segundo ele, é preciso garantir a viabilidade das culturas e o abastecimento de todas as populações com tecnologias que ajudem o agronegócio a se adaptar às mudanças.
“Essas tecnologias já estão disponíveis aqui no Brasil. O nosso desafio, em geral, não é desenvolvê-las, mas sim disseminá-las. Seca, excesso de chuva, geada, não escolhe o tamanho da propriedade, não escolhe se é pequeno grande ou médio produtor. O que vai diferenciar, por exemplo, é o tipo de tecnologia que aquele é produtor consegue adotar”, diz Felippe Serigati, pesquisador do FGV Agro (Jornal Nacional, 29/8/24)