Por Rodrigo Sauaia CEO da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) e Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da Absolar
Processo exige investimentos públicos e privados e vontade política.
Para além de discursos, entrevistas e anúncios públicos de autoridades de diversos países, a transição energética é um processo prático, baseado em ações concretas e programas governamentais objetivos. Requer investimentos públicos e privados, vontade política para a definição e implementação e consolidação de diretrizes capazes de impulsionar uma agenda sustentável robusta, bem como o estabelecimento e a manutenção de bons acordos comerciais entre os mercados de diferentes países.
Diante desse desafio, o Brasil tem assumido cada vez mais protagonismo na geopolítica da transição energética. Rico em diversos recursos naturais, como sol, vento, água, biomassa e minerais estratégicos, o país se tornou exemplo global da expansão eficiente e bem-sucedida das energias renováveis nos últimos anos, com destaque para a fonte solar fotovoltaica.
Relatório recente da BloombergNEF sobre os países que mais investiram em transição energética em 2023 mostra que o Brasil atingiu a sexta posição global e a liderança na América Latina. O estudo considera iniciativas práticas para a ampliação das energias renováveis, avanço dos veículos elétricos e implantação de projetos para a produção de hidrogênio verde, entre outras tecnologias sustentáveis.
A ascensão brasileira na transição energética está intimamente relacionada com o avanço dos investimentos na expansão da geração solar, especialmente a partir de 2012. Atualmente, com mais de 4 GW da fonte já adicionados em 2024, o Brasil ultrapassou a marca de 42 GW com a tecnologia fotovoltaica, o equivalente a 17,4% da matriz elétrica, sendo a segunda maior fonte do país.
O setor solar trouxe ao Brasil mais de R$ 195 bilhões em investimentos, mais de R$ 53 bilhões em arrecadação aos cofres públicos e cerca de 1,2 milhão de empregos verdes. Com isso, evitou a emissão de 50,1 milhões de toneladas de CO2 na geração de eletricidade.
Outro marco importante veio ao longo de 2022, quando o Brasil entrou, pela primeira vez, na lista dos dez países com maior potência instalada acumulada da fonte solar. E, no último ano, o país subiu duas posições no ranking global de capacidade instalada da tecnologia fotovoltaica, chegando à sexta colocação, segundo balanço da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena).
Um dos pontos centrais dessa expansão está na popularização da energia solar junto à sociedade, resultado do barateamento da tecnologia fotovoltaica aos consumidores, empresas e produtores rurais brasileiros. Estima-se que, em 2023, os painéis solares ficaram 50% mais baratos em relação ao ano anterior, fruto, em grande medida, das positivas relações comerciais com parceiros internacionais, sobretudo com os fabricantes chineses de equipamentos solares.
É inegável que o ganho de escala de produção global, o aumento de eficiência dos equipamentos e a consequente queda de seus preços aos consumidores finais têm sido cruciais para acelerar a transição energética no país.
A parceria internacional do Brasil com o mundo também garante competitividade às dezenas de milhares de empresas que atuam neste setor e a preservação e ampliação dos seus centenas de milhares de empregos verdes. Trata-se de uma relação “ganha-ganha”, que, no final das contas, atende a demanda do mercado interno e acelera a transição energética, beneficiando a sociedade (Folha, 26/4/24)