Em debate Folha/FGV, especialistas afirmam que governo não tem liderança clara na área.
O governo Lula (PT) não tem uma liderança clara para tocar sua política de transição energética e arrisca perder uma série de oportunidades na área, em que países como China, Estados Unidos e a União Europeia vêm avançando rapidamente e de forma bem mais organizada.
Em seminário online promovido pela Folha e o Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), Joisa Dutra, diretora do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da FGV, diz temer que o Brasil leve “um 7 a 1” no processo da transição em relação a outros países.
O 7 a 1 foi a goleada que a seleção brasileira tomou da Alemanha, em julho de 2014, durante a Copa do Mundo disputada no Brasil. Para Dutra, há muita “criatividade” em propostas, mas que podem acabar não se materializando.
Dutra citou no encontro frase do ministro do Planejamento Roberto Campos (1917-2001) para ressaltar o risco. “Infelizmente, o Brasil não perde uma oportunidade de perder oportunidades”, dizia o economista.
Para Suzana Khan, diretora da Coppe/UFRJ, “falta um dono” para a política de transição energética no país. “Temos representantes em 17 ou 18 ministérios tratando do mesmo assunto, mas não uma pessoa que seja realmente a responsável por uma política articulada.”
Ela citou o caso da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), criada em 1973, que foi a responsável por articular o desenvolvimento do agronegócio no Brasil, hoje líder em produção e inovação em vários ramos do negócio.
Khan afirmou, por exemplo, que não há projetos coordenados para limitar o uso de petróleo e gás em outras áreas, como nas indústrias de plástico e de fertilizantes. Segundo ela, são setores que poderiam contar com um uso mais intensivo de biomassa, abundante no Brasil por conta da força de seu agronegócio.
Outro ponto destacado no seminário é o custo de capital para investimentos na transição energética. Enquanto China, EUA e União Europeia alocam subsídios bilionários na área, o Brasil segue com um custo de financiamento entre os maiores do mundo —reflexo do desajuste macroeconômico nas contas públicas, que pode deixar o país para trás na atração de investimentos.
“Há uma expectativa de que, até 2030, os investimentos na área sejam quadruplicados. Mas, no Brasil, o custo do capital é alto até mesmo na comparação com outros emergentes”, diz Dutra (Folha, 25/4/24)