Participação do setor na economia nacional cai de 25,2% para 23,8%.
A boa notícia da agropecuária em 2023 foi o crescimento de 15,1% do PIB (Produto Interno Bruto) do setor. O agronegócio, quando olhado como um todo, porém, teve queda de 2,99% no mesmo período.
A taxa de evolução de 15,1% é do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que olha para dentro da porteira e avalia o volume agregado pela agropecuária. Supersafra de grãos e evolução da oferta na pecuária sustentaram a taxa.
Já a queda de 2,99% é do Cepea (Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada) e da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). O dado reflete não apenas o volume de produção agregado dentro da porteira mas também o comportamento real dos preços. A produção foi recorde, mas os preços tiveram forte queda no ano passado, o que provocou a retração do índice.
Além disso, os dados do Cepea incluem não só a agropecuária mas a produção de insumos relacionada ao setor, as agroindústrias de processamento e o agrosserviço. Este último contempla transporte, armazenagem, parte financeira e outras atividades necessárias para que o produto chegue ao consumidor final.
A taxa do IBGE reflete o PIB-volume. A do Cepea, o PIB-renda do agronegócio. Se o Cepea considerasse apenas o critério do IBGE, o PIB da agropecuária teria evoluído 19,1% no ano passado. Essa taxa superior aos 15,1% do IBGE ocorre devido a algumas diferenças metodológicas. O Cepea, por exemplo, usa dados da Conab. O IBGE utiliza dados próprios.
Esse foi o segundo ano em que o PIB real do agronegócio caiu. Em 2021, atingiu R$ 2,73 trilhões, valor que recuou para R$ 2,66 trilhões em 2022 e para R$ 2,58 trilhões no ano passado. Essa queda fez com que a participação do setor na economia nacional recuasse de 25,2%, em 2022, para 23,8%, em 2023.
A maior retração no ramo agrícola no ano passado ocorreu no setor de insumos, que teve uma queda de 28% no ano. Esse recuo foi ocasionado pela desaceleração dos preços dos fertilizantes e dos insumos e pela queda de produção de máquinas agrícolas.
Dentro da porteira, o PIB agrícola foi impulsionado pela safra recorde, mas afetado pela queda acentuada de grãos. Mesmo assim, teve alta de 5,1% no ano. Já o ramo pecuário registrou perda de 10,6% no período, segundo o Cepea.
A queda nos preços afetou também a agroindústria agrícola, que teve perda de 3,4% no ano, provocada pela retração nas indústrias de produtos de madeira, papel e celulose, biocombustível, café industrializado e óleos vegetais.
Já a agroindústria do ramo pecuário foi beneficiada pela queda nos custos industriais e pela maior produção ao longo do ano. A evolução foi de 4,1%. A indústria pecuária, apesar do aumento da produção, teve o PIB também afetado pelo comportamento desfavorável dos preços para as indústrias de couro, calçados, abate, preparação de carnes e laticínios.
O levantamento referente ao ano passado mostrou que o setor de agrosserviço foi beneficiado tanto pelo aumento de demanda de serviços dentro da porteira quanto fora dela, principalmente na agroindústria.
A participação do setor agrícola no PIB, incluindo todas as atividades relacionadas a ele, subiu para 72% no ano passado. O da pecuária recuou de 30% para 28%.
Nicole Rennó de Castro, pesquisadora do Cepea, afirma que o PIB do agronegócio foi bastante afetado pela queda dos preços em 2023, principalmente os de soja, milho e cana-de-açúcar, itens de grande participação na composição do índice.
No segmento primário, poucos produtos tiveram elevação em 2023. Entre eles arroz, cacau, laranja e fumo. As quedas foram muitas, lideradas por soja, milho, café e trigo, todos com retração entre 25% e 30% no ano.
Na pecuária, boi gordo, frango e leite impediram uma evolução maior do PIB dentro da porteira, uma vez que os preços tiveram forte queda. Já suíno e ovos registraram altas no período.
Os dados do Cepea e da CNA mostram que houve uma tendência geral de queda dos preços na agroindústria. No ramo agrícola, a exceção foi para o açúcar, que subiu 11,3%. No ramo pecuário, todos caíram de preços, mas houve aumento de oferta, como foi o caso da elevação de 9% nos abates (Folha, 26/3/24)