Queda de preço dos grãos e espera por menores taxas de juros derrubam as vendas.
O bom desempenho que o setor agropecuário obteve nos últimos anos refletiu de forma intensa na indústria de máquinas agrícolas.
Em 2022, os preços das commodities atingiram valores recordes, e as margens de lucro dos agricultores permitiram uma elevação dos investimentos. O resultado foi que a indústria de máquinas agrícolas colocou um volume recorde de 70,3 mil unidades no setor em 2022.
O país manteve um ritmo acelerado de crescimento na produção de grãos, superando os 300 milhões de toneladas no ano passado, mas o humor dos produtores mudou. Queda nos preços das commodities, ano de eleição, aumento da taxa de juros e uma desestabilidade climática, com anunciada quebra de safra, fizeram o produtor pisar no freio, e as compras do ano passado ficaram 13,2% abaixo das de 2022.
Para este ano, as nuvens sobre o setor não se dissiparam. Ao contrário, em algumas regiões do país já está consolidada uma quebra de safra. Diante desse cenário, o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Márcio de Lima Leite, espera uma nova redução nas vendas no varejo. Na avaliação da entidade, as vendas recuam para 54,3 mil unidades, 11% a menos do que as de 2023.
Se o setor tem riscos, que podem vir dos efeitos climáticos, dos preços das commodities ou de um Plano Safra que não atenda às necessidades do agricultor, há, de outro lado, uma série de fatores a favor.
O presidente da Anfavea destaca o crescimento da economia, a queda da Selic e os investimentos de R$ 1,4 trilhão do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) até 2026. Além disso, há fatores inerentes à própria atividade agrícola, como o aumento mundial pela demanda de alimentos e a busca da descarbornização, com programas de biocombustíveis e avanços da economia verde.
Rafael Mioto, presidente da CNH Industrial para a América Latina, afirma que há problemas no momento e que a margem de lucro dos produtores será menor, principalmente nas áreas mais afetadas pela crise climática.
O endividamento, no entanto, não é elevado e está dentro de uma normalidade. Os produtores, no entanto, prorrogaram as vendas à espera de uma situação melhor, o que não ocorreu até agora.
As perspectivas para o setor são boas, segundo o presidente da CNH. Além das condições normais de grande produtor de alimentos, o país é um dos que têm o agricultor que mais insere tecnologia em sua atividade.
A sucessão familiar é um outro ponto favorável, uma vez que a nova geração no Brasil está interessada no setor e tem uma visão mais voltada para a tecnologia. Isso não ocorre nos Estados Unidos. Lá a nova geração tem menor interesse pela atividade, diz Mioto.
Ele destaca ainda a necessidade que o produtor tem de uma modernização da produção para ser mais competitivo e reduzir o custo Brasil.
A Anfavea acrescenta ainda a essa lista de potencialidade do setor a renovação de frota. Pelo menos 51% dos tratores que circulam pelo campo têm mais de 15 anos. Essa renovação por máquinas mais eficientes se faz ainda mais necessária com o avanço da conectividade no campo.
Uma experiência por dois anos em uma fazenda totalmente conectada resultou em maior produtividade e redução de consumo de combustível, diz Mioto.
A indústria de máquinas agrícolas passou por dificuldades na obtenção de acessórios importados no período de pandemia e da invasão da Ucrânia pela Rússia. O presidente da CNH afirma que a situação já está normalizada, mas que “ainda há a chance de encontrar um fantasma em cada curva”. Ele se refere ao novo conflito geopolítico entre Israel e Hamas, que está dificultando o comércio pelo mar Vermelho.
A Anfavea divulgou também as vendas de máquinas rodoviárias, que caíram 21% no ano passado, para 30,4 mil unidades. Neste ano, as vendas deverão atingir 31,8 mil unidades, com evolução de 5% (Folha, 29/2/24)
Máquinas agrícolas: Anfavea projeta queda de 11% nas vendas em 2024 LOGO ANFAVEA
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) projeta uma queda de 11% na venda de máquinas agrícolas em 2024. A previsão foi apresentada em coletiva de imprensa realizada hoje. Se for confirmada, este será o segundo ano consecutivo de redução nas vendas. No ano passado, foram comercializadas 60.981 unidades.
Para este ano, a projeção é de que sejam vendidas 54.300 unidades. O clima adverso decorrente dos efeitos do fenômeno climático El Niño, que provocou a quebra da safra 2023/24 e a queda nos preços das commodities agrícolas, pode representar riscos para a aquisição de maquinário por parte dos produtores.
Também as exportações devem diminuir neste ano, com 8.500 unidades, queda de 3% em relação a 2023. Mas, segundo o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, a projeção de crescimento global da economia e do PIB do Brasil, além da queda da taxa de juros e do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), de R$ 1,4 trilhão, podem estimular o setor.
O presidente da CNH Industrial para a América Latina, Rafael Miotto, disse que no momento existe uma preocupação acentuada em relação ao rendimento das lavouras, especialmente em Mato Grosso, o maior Estado produtor de grãos do País, o que tende a encurtar as margens de investimentos dos agricultores. A queda nas vendas de colheitadeiras de grãos no ano passado, de 18,5%, já foi reflexo dessa preocupação, segundo ele. “A margem apertada influencia a decisão”, afirmou.
Ele ressalta, entretanto, que há boas chances de ocorrência de La Niña neste ano. Ao contrário de El Niño, o fenômeno pode trazer muitas chuvas para o Centro-Oeste e provocar estiagem no Sul do País, situação inversa da verificada na safra atual. “A tendência para Mato Grosso é de recuperação no próximo ano”, afirmou (Broadcast, 29/2/24)