Por Arnaldo Luiz Corrêa
A semana não foi muito animadora para o mercado de açúcar. O acumulado da semana ficou em território negativo, com o vencimento março/24 cotado a 23.05 centavos de dólar por libra-peso, 88 pontos abaixo do encerramento da semana anterior, uma queda de quase 20 dólares por tonelada. Os meses que compõem a safra 24/25 do Centro-Sul, isto é, contratos de maio, julho e outubro de 24 mais o março de 25, encerraram com quedas 51 a 27 pontos, aproximadamente um recuo de 11 a 6 dólares por tonelada respectivamente.
A queda foi maior no vencimento março/24 em função da proximidade do vencimento das opções ocorrido na quinta-feira. No início da semana, quando o mercado negociava ao redor dos 24 centavos de dólar por libra-peso, o total de puts (opções de venda) em aberto com preço de exercício entre 22 e 24 centavos de dólar por libra-peso, somava mais de 65.000 lotes. É apenas natural que os vendedores dessas opções temessem ser exercidos e para não correrem o risco de ficarem comprados em futuros num mercado descendente, venderam futuros já antecipando o exercício das puts. Aí, o mercado afundou até 22.75 centavos de dólar por libra-peso.
O Valor Presente Líquido do fechamento de NY para a 24/25 convertidos em reais por tonelada apontou 2,577 reais por tonelada uma queda de 17 reais por tonelada em relação à semana anterior; para a 25/26 esse valor cai para 2,322 reais por tonelada, 30 reais por tonelada a menos do que o valor da sexta passada. A 24/25 ainda permite a fixação de vendas de açúcar (por parte das usinas) devido ao valor bem remunerador, no entanto, é recomendável faze-la acompanhada da compra de uma opção de compra fora-do-dinheiro para se proteger contra uma eventual alta, ainda que – no cenário atual – essa probabilidade seja pequena.
Para os consumidores industriais, 25/26 nos níveis atuais pode ser uma boa compra em centavos de dólar por libra-peso, deixando para fixar o dólar mais adiante. A diferença entre o NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, para o período e o valor esperado do dólar spot pelo Boletim Focus justifica a não fixação em reais por tonelada. A sintonia fina da gestão de risco uma vez mais é recomendada com todas as letras.
Como dissemos nos comentários passados, há um enorme caminho a ser percorrido até que se perceba a magnitude do déficit hídrico que afetou os canaviais. No presente cenário, eventual redução da safra de cana do Centro-Sul para abaixo dos 590 milhões de toneladas é um dos pontos que podem mexer nos preços do açúcar para além dos 25 centavos de dólar por libra-peso. Fora isso – e algum fator exógeno que não está no radar neste momento – NY terá enormes dificuldades em sair do intervalo de preços entre 22 e 25 centavos de dólar por libra-peso.
Caso os fundos decidam entrar comprados novamente no açúcar poderão mover o mercado de maneira significativa. No entanto, parece que os olhos deles estão voltados para um mercado que está bem nervoso e muito volátil, combinações que os fundos adoram: o mercado de cacau. Doenças e condições climáticas desfavoráveis tem atingido a África Ocidental e os fundos deitam e rolam com uma posição que está beirando os US$ 9 bilhões combinada com as bolsas de NY e Londres. Os fundos não são responsáveis pelo aumento extraordinário do cacau (100% em um ano !!), mas a situação atual dos fundamentos do mercado amplifica o movimento de preços. No açúcar, os fundos especulativos estão comprados apenas 33,500 lotes, aproximadamente o que o Brasil exporta em 3 semanas.
Outro ponto de virada que vai necessitar alguma mudança no mercado de energia é o etanol. Difícil ficar otimista com o WTI, Brent, gasolina e diesel caindo pelas tabelas. Some-se a isso o mercado de milho (lá fora) pressionado e negociando no custo & carrego, o primeiro sinal de que existe muito milho no sistema. Pense como isso pode aumentar a disponibilidade de etanol de milho e suas implicações na formação de preço do etanol de cana.
Nosso analista e colaborador Marcelo Moreira vê resistência no maio/24 a 22.80/23.60/24.00 centavos de dólar por libra-peso; e suporte a 21.90 e depois 19.80. O spread julho-outubro/24 voltou a fechar no zero-a-zero podendo voltar a abrir dependendo do início da safra eventuais problemas logísticos nos principais terminais marítimos.
E a Índia, hein? Diferentemente do que esperavam alguns analistas mais altistas, a safra 23/24 indiana está com a produção em andamento num volume ligeiramente menor do que a do ano passado. Segundo a Federação Nacional de Fábricas de Açúcar Cooperativas Limitadas (NFCSF), as 507 usinas que estão operando já moeram 227 milhões de toneladas de cana e produziram 22.4 milhões de toneladas de açúcar. No mesmo período do ano passado, esse volume era de 236 milhões de toneladas de cana e 22.9 milhões de toneladas de açúcar.
Gostaria de dedicar meu comentário semanal desta semana a uma figura excepcional do mercado sucroalcooleiro, um verdadeiro ícone: Antônio de Padua Rodrigues, que nos deixou a semana passada. Padua era uma enciclopédia ambulante de conhecimento e uma presença constantemente elegante, cuja generosidade e precisão nas informações salvaram muitos de nós, inúmeras vezes, ao longo dos anos. Sua contribuição para o setor e para as vidas pessoais daqueles com quem compartilhava seu vasto saber era incomensurável. A última vez que tive o privilégio de contar com a generosidade de Padua foi há algumas semanas quando ele aceitou escrever um texto para a contracapa de um livro sobre o mercado que estarei lançando em breve. Um gesto que, por si só, fala sobre o tipo de pessoa que era: um indivíduo que, mesmo diante de seus inúmeros compromissos, sempre encontrava tempo para apoiar e elevar aqueles ao seu redor. Sua falta será profundamente sentida, mas seu legado permanecerá conosco. Que possamos honrar sua memória continuando a buscar a excelência e a generosidade que ele exemplificou em todas as suas ações.
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