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Por que o agro europeu se opõe tão fortemente ao acordo entre UE Mercosul

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Pelo menos seis países europeus voltaram a registrar nesta sexta-feira (2) manifestações de agricultores.

Pelo menos seis países europeus voltaram a registrar nesta sexta-feira (2) atos de protestos de agricultores que exigem amis apoio dos governos ao setor. O epicentro dos protestos é a França, onde a pressão sobre o presidente Emmanuel Macron tem crescido dia após dia. Em especial, por causa do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.

A fronteira da Bélgica com a Holanda bloqueada. Atos na IrlandaGrécia e Malta. Na França, as vias – assim como o diálogo – só abriram depois que o presidente Emmanuel Macron cedeu às pressões dos agricultores e, mais de uma vez essa semana, deu as tratativas de acordo entre União Europeia e Mercosul como encerradas.

O que vemos são atores de uma disputa comercial. De um lado, países do Mercosul, com um grande agronegócio como protagonista: o Brasil. Do outro, os agricultores contrários ao acordo do bloco com a União Europeia. Com o grupo de ambientalistas como aliados, em uma cena, senão inédita, ao menos rara.

Pedro Brites, professor de Relações Internacionais da FGV, explica como pressões internas uniram grupos que, muitas vezes, estão em lados opostos.

“Você tem as pressões domésticas de cada um desses países, e a França já deu sinais de que não vai abrir mão desse apoio popular interno. Além do que, como essa questão ambiental também ficou vinculada às discussões do acordo, os ambientalistas também estão do lado dos produtores agrícolas, o que normalmente não é uma aliança comum, mas nesse caso, especificamente, há uma oposição muito forte ao acordo”, diz o professor.

Produtores franceses argumentam que precisam se adequar a regras ambientais mais rígidas do que as do Brasil e que um possível acordo seria danoso para os dois lados. Mas Laura Antoniazi, pesquisadora e especialista em agronegócio, diz que as argumentações dos europeus são frágeis.

“Os ambientalistas argumentam que esse acordo poderia estimular ainda mais o desmatamento, principalmente no Brasil, por conta do avanço da fronteira agrícola. É um argumento que também não se sustenta, porque existem as salvaguardas ambientais no acordo, o Brasil tem área suficiente para expandir sua produção sem desmatamento”, pondera.

A França é o maior produtor agrícola da União Europeia e agricultores europeus são historicamente acostumados a receber apoio por meio de subsídios – dinheiro do governo para ajudar a sustentar a produção.

Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento, a OCDE, mostram que a ajuda que os produtores da União Europeia recebem do governo equivale a 15% das receitas do setor. No Brasil, é 3,5%.

Nos protestos em frente ao Parlamento europeu, produtores rurais reclamam dos recentes aumento de custos – dos combustíveis, por exemplo – e se colocam contra algumas regras de proteção ambiental, que encarecem a terra. Uma pressão sobre os líderes da União Europeia para reduzir taxas do setor e não abrir os portos para o mercado externo. Segundo eles, uma concorrência desleal.

A Associação Brasileira de Proteína Animal calcula que produzir um frango na França custa praticamente duas vezes mais do que no Brasil. Na produção de suínos, uma comparação internacional mostrou que o Brasil tem o menor custo de produção de todos os 15 países pesquisados.

Mas a pesquisadora Laura Antoniazi lembra que as mudanças, em caso de assinatura de um acordo, não seriam drásticas.

“O acordo não iria abrir totalmente o mercado para que os produtos do Brasil, da Argentina, pudessem inundar o mercado europeu. Existiriam cotas, isso ia ser uma coisa gradual. Então, assim, não é que também com o acordo funcionando eles iam perder o mercado totalmente, mas iriam ter essa concorrência de uma maneira maior do que tem hoje”, pontua Laura.

As negociações entre os dois blocos econômicos começaram em 1999. Em 2019, os países concluíram a parte comercial do texto, mas, até hoje, o acordo segue no papel.

A história das relações internacionais mostra que a negociação de acordos entre blocos econômicos é pautada por fundamentos técnicos, em conversas que podem levar décadas e interrompidas em um instante por motivos políticos.

A possível ameaça do Brasil como grande produtor agrícola mundial, o ano de eleição ao Parlamento europeu, que leva os líderes a ações de grande popularidade e, de forma geral, a tendência dos países a se fecharem diante da crise que começou com a pandemia e se estende com as guerras, pode levar a um retrocesso na construção de uma ponte do Mercosul com a comunidade europeia, dizem os analistas do comércio exterior.

“A gente está em um momento quase antiglobalização, existem também esses movimentos muito fortes na Europa, principalmente, mais nacionalistas e antiglobalização, antimultilateralismo. Então está um momento especialmente difícil para acordos e para essa esperança em cooperação comercial de uma maneira geral”, diz Laura.

A despeito disso, o Brasil segue ganhando mercado. O que, segundo o professor da FGV, demonstra que há espaço para buscar equilíbrios.

“É um desafio constante. Eu acho que vai ser sempre a busca por novos mercados, e tentar entender que mercados você tem algum nível de complementaridade e a condição de estabelecer acordos que sejam válidos para as duas partes”, diz Pedro Brites (Jornal Nacional, 2/2/24)

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