Fazendeiros acenderam fogueiras e tratores bloquearam prédios da União Europeia na capital da Bélgica.
Cerca de 1.300 tratores bloquearam nesta quinta (1º) o bairro onde funciona a administração da União Europeia em Bruxelas, na capital da Bélgica, para exigir que os líderes da UE façam mais para ajudá-los contra impostos e custos crescentes.
Os manifestantes jogaram pedras e ovos nos prédios administrativos da UE, como o Parlamento Europeu, além de acenderem fogueiras, lançarem fogos de artifício, despejarem esterco e derrubarem uma estátua. No final da tarde, anunciaram que recuariam e voltariam a bloquear as entradas e saídas da cidade.
Com a raiva contra as regulamentações verdes e as importações baratas compartilhada entre os agricultores de toda a Europa, manifestantes da Itália, Espanha e outros países europeus participaram do ato em Bruxelas, que coincidiu com uma cúpula da UE nas proximidades, além de realizarem protestos em seus países.
As manifestações são principalmente contra os esforços da UE para combater as alterações climáticas, que trazem uma série de regulações que limitam as práticas de agricultura, bem como a abertura às importações ucranianas mais baratas para ajudar no esforço de guerra de Kiev.
“Queremos acabar com essas leis malucas que chegam todos os dias da Comissão Europeia”, disse José Maria Castilla, agricultor que representa o sindicato espanhol de agricultores Asaja e que acompanhou as manifestações em Bruxelas.
Os protestos em toda a Europa ocorrem em um momento em que a extrema-direita, para a qual os agricultores representam um eleitorado crescente, é vista obtendo ganhos nas eleições de junho para o Parlamento Europeu. Os líderes estão tentando acalmar a agitação.
Desde a semana passada, milhares de fazendeiros ocuparam as estradas da França, em uma mobilização que chegou a cerca Paris na segunda-feira (29). Os sindicatos anunciaram o fim dos bloqueios nesta quinta, após o governo francês divulgar uma série de medidas para favorecer a classe, incluindo uma rejeição ao acordo UE-Mercosul.
Os protestos, porém, se alastraram para uma série de países, como Espanha e Alemanha, até chegaram às portas da União Europeia nesta quinta.
“Em toda a Europa, surge a mesma pergunta: como podemos continuar a produzir mais e melhor? Como podemos continuar a enfrentar as mudanças climáticas? Como podemos evitar a concorrência desleal de países estrangeiros?”, disse o primeiro-ministro francês Gabriel Attal, ao anunciar novas medidas em Paris.
Attal prometeu facilitar a vida dos agricultores e protegê-los melhor em nível francês e na UE, inclusive proibindo importações baratas de produtos que usam tiaclopride —um pesticida proibido na Europa— e garantindo que os rótulos dos alimentos indiquem claramente se o produto é importado.
O objetivo das novas medidas é “reconhecer melhor a profissão do agricultor, restaurar os rendimentos, proteger contra a concorrência desleal”, afirmou Attal, que voltou a declarar a oposição “clara e firme” da França às negociações do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul.
O governo francês ainda destinará 150 milhões de euros (US$ 162 milhões de dólares ou R$ 802 milhões) “de forma contínua” aos auxílios fiscal e social aos pecuaristas e pedirá uma definição “clara” da UE sobre “o que é carne cultivada”.
MAIS AJUDA
Os agricultores já garantiram várias medidas, incluindo as propostas da Comissão Executiva do bloco para limitar as importações de produtos agrícolas da Ucrânia e afrouxar algumas regulamentações ambientais sobre terras em pousio, as quais vários líderes da UE saudaram ao chegarem à cúpula.
Mas eles afirmam que isso não é suficiente e que estão sufocados por impostos e regras verdes e enfrentam a concorrência desleal do exterior.
“As eleições europeias estão chegando e os políticos estão muito nervosos, assim como a Comissão Europeia. Acho que este é o melhor momento para que, juntos, todos os agricultores europeus saiam às ruas”, avaliou Castilla.
Embora a crise dos agricultores não esteja oficialmente na agenda da cúpula da UE, que até agora se concentrou na ajuda à Ucrânia, um diplomata do bloco disse que a situação dos agricultores seria discutida.
“Está acontecendo em toda a Europa, então vocês devem ter esperança”, disse Kevin Bertens, agricultor dos arredores de Bruxelas, nos protestos na capital belga. “Vocês precisam de nós. Ajudem-nos!”
Pequenos grupos tentaram derrubar as barreiras erguidas em frente ao Parlamento, a poucos quarteirões de onde a cúpula estava ocorrendo, mas a polícia disparou gás lacrimogêneo e borrifou águas com mangueiras para fazê-los recuar.
Enquanto isso, o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, repetiu a oposição do presidente francês, Emmanuel Macron, à assinatura de um acordo comercial com o Mercosul em sua forma atual (Folha, 2/2/24)