Ao longo de toda safra 2023/24, os preços médios do açúcar cristal branco no mercado spot de São Paulo superaram os registrados na temporada anterior. Em outubro, o Indicador CEPEA/ESALQ (estado de São Paulo) atingiu, no dia 15, o maior patamar nominal da série histórica, de R$ 159,32/saca de 50 kg.
Apesar da produção recorde de açúcar no estado de São Paulo, o bom desempenho das exportações brasileiras reduziu a oferta disponível no mercado interno, mantendo os preços elevados. De abril/23 a dezembro/23, a média do Indicador CEPEA/ESALQ do açúcar cristal foi de R$ 143,34/saca de 50 kg, alta de 14% em relação à do ano anterior (R$ 124,68/saca de 50 kg de abril/22 a dezembro/22), em termos reais – os valores deflacionados pelo IGPDI base novembro/23.
O aumento das exportações de açúcar já era previsto, impulsionado pelos preços internacionais favoráveis, face à menor oferta mundial. Na temporada global 2022/23, encerrada em setembro/23, a Índia, que é o segundo maior produtor da commodity, registrou queda de 13,23% na produção; para a União Europeia, a redução foi de 11,26%, segundo o USDA. Na Bolsa de Nova York (ICE Futures), os preços do demerara reagiram ao longo da temporada 2023/24 frente à relativa escassez mundial de açúcar. De abril/23 a dezembro/23, o primeiro vencimento oscilou entre 20 e 27 centavos de dólar por libra-peso, ante o intervalo de 17 a 21 centavos de dólar por libra-peso na temporada anterior.
Cálculos do Cepea mostram, inclusive, que, em praticamente todo o ano de 2023, as vendas externas remuneraram mais que as internas. A diferença mais expressiva ocorreu na primeira semana de setembro, quando o valor equivalente das exportações remunerou 23,52 Reais/saca de 50 kg mais que as vendas do cristal no spot paulista.
Em 2023, o Brasil exportou 31,376 milhões de toneladas de açúcar, volume 15,14% maior que o total embarcado em 2022, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior). A receita obtida em 2023 totalizou US$ 15,746 bilhões, alta de 43,02% em relação ao ano anterior, ainda conforme a Secex.
Quanto à demanda doméstica pelo cristal no mercado spot de São Paulo, o Cepea captou redução ao longo da temporada 2023/24. Esse cenário pode ser interpretado como um efeito da menor disponibilidade do produto para negociação interna, devido ao aumento das exportações, ou um reflexo da queda no consumo de industrializados à base de açúcar.
Levantamento do Cepea mostra que o total de açúcar faturado pelas usinas de São Paulo entre abril/23 e novembro/23, incluindo as vendas industriais e de varejo, caiu 9,85% em relação ao mesmo período de 2022. O USDA divulgou em seu relatório de novembro/23 que o consumo no Brasil terá queda de 7,37% na atual safra (2023/24). Nas lavouras paulistas, a moagem de cana-de-açúcar da temporada 23/24 deve se estender até o final de dezembro, devido ao maior volume produzido.
Segundo a Unica, de abril/23 a novembro/23, as usinas de São Paulo moeram 364,612 milhões de toneladas de cana, aumento de 18% em relação ao mesmo período do ano anterior. A produção de açúcar no estado totaliza 27,354 milhões de toneladas, alta de 22,6%.
NORDESTE
Os preços do açúcar cristal também se mantiveram em patamares elevados em 2023 no spot nordestino, com negócios ultrapassando a casa dos R$ 170 por saca de 50 kg. Nos dois primeiros meses do ano, algumas usinas flexibilizaram os valores de suas ofertas para fazer caixa. De março a maio, no entanto, predominaram as altas, influenciadas especialmente pela oferta restrita e pelos preços elevados no mercado internacional e no Centro-Sul do Brasil.
A demanda, por sua vez, não foi tão aquecida, com parte dos compradores adquirindo o produto de forma pontual, por conta justamente das cotações elevadas. A partir de junho, algumas usinas flexibilizaram os valores de negociação para desovar estoques. Em julho, final da entressafra, os preços caíram com mais força. Algumas unidades baixaram os valores ofertados, devido à demanda retraída; além disso, parte dos compradores adquiriu o produto de Goiás.
A moagem da safra 2023/24 teve início em agosto, com grande parte da produção sendo de VHP para exportação. Os preços voltaram a avançar a partir de setembro, impulsionados pela valorização externa do adoçante e pela oferta restrita no spot nordestino. Somente no final do mês, usinas iniciaram as vendas no mercado interno com o produto da nova safra. Os valores estiveram firmes até o final de 2023, porém com lentidão nas negociações.
Algumas usinas continuaram priorizando as exportações, limitando a oferta doméstica e sustentando os preços, mesmo com outras unidades produtoras flexibilizando as ofertas para “fazer caixa”. Segundo dados da Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio), o volume de cana-de-açúcar processado pelas usinas do Norte e Nordeste do País permaneceu em alta no acumulado até 30 de novembro.
O aumento foi de 7,2% comparado com o mesmo período da safra anterior, atingindo 35 milhões de toneladas de cana processada em comparação com as 32,7 milhões de toneladas no mesmo período da safra passada (2022/2023). A produção de açúcar cresceu 15,1%, chegando a 1,8 milhão de toneladas (Assessoria de Comunicação, 8/1/24)