Ao longo dos últimos meses, as análises feitas pelo Cepea sobre o setor sucroenergético recaíram, com frequência, sobre o desempenho das vendas de combustível, os preços frágeis dos etanóis anidro e hidratado e seus fundamentos e o clima favorável às atividades no campo. E, assim, a safra 2023/24 de cana-de-açúcar vai se encerrando na região Centro-Sul atingindo números bem robustos.
De modo geral, o setor sucroenergético cresceu em 2023 e se fortaleceu em meio ao cenário um tanto quanto desfavorável e desafiador que se desenhou, e se prepara para a nova temporada 2024/25, em que a moagem de cana deve ser antecipada. Até há pouco tempo, a receita das unidades produtoras da região Centro-Sul se restringia à venda de açúcar e etanol de diferentes tipos e mercados atingidos e outros produtos secundários, como bagaço, levedura, óleo fúsel.
Nos últimos anos, contudo, o leque se ampliou de maneira substancial, já que a atividade deixou de ser protegida por políticas públicas, passando a viver em maior grau a realidade dos riscos de mercado, além do tradicional risco de produção. Alguns exemplos são o biometano, a venda de Crédito de Descarbonização (CBIO), a comercialização do CO2 verde a partir da purificação do bioagás e da fermentação do etanol e o Combustível Sustentável de Aviação (SAF, sigla em inglês).
Ainda assim, no portfólio de produtos comercializados pelas unidades produtoras, os carros-chefes continuam sendo o açúcar (especialmente na safra atual) e o etanol. No caso do alimento, as cotações se sustentaram ao longo da temporada 2023/24, enquanto as do biocombustível registraram fortes quedas.
Com a maior oferta, os preços dos etanóis fecham 2023 em baixa frente aos do ano anterior. Levantamento do Cepea mostra que, no ciclo vigente (de abril/23 a dezembro/23), os Indicadores CEPEA/ESALQ mensais dos etanóis hidratado e anidro do estado de São Paulo acumularam respectivas quedas de 16,7% e de 15,9% frente aos de igual período da temporada anterior, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-M de dezembro).
Os preços foram influenciados pela maior produção de cana-de-açúcar e pelo rápido andamento das atividades agrícolas e industriais em São Paulo. Os efeitos do fenômeno El Niño foram pouco sentidos pelo setor sucroenergético, e o processamento de cana se estendeu para dezembro para algumas unidades produtoras. No caso do açúcar, o cenário foi um pouco diferente, com as cotações internacionais dando bom suporte aos preços domésticos.
Na Bolsa de Nova York (ICE Futures), os contratos futuros atingiram a marca de 28 centavos de dólar por libra-peso no começo de novembro. Se o volume de etanol a partir da cana-de-açúcar cresceu, o combustível vindo do milho no Centro-Oeste brasileiro foi o destaque na temporada atual. Na parcial (abril/23 até 16 de dezembro/23), o avanço foi de 42% na comparação com o mesmo período de 2022, com volumes que chegaram a 4,33 bilhões de litros.
No front externo, os embarques brasileiros de etanol no acumulado da safra 2023/24 (entre abril e dezembro) somaram 2,031 bilhões de litros do biocombustível, baixa de 6,21% se comparado ao mesmo período da temporada passada, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). A receita arrecadada foi no período somou US$ 1,24 bilhão, ainda conforme a Secex, recuo de 21,4% em igual comparativo.
NORDESTE
A safra 2023/24 se iniciou no final de julho na Paraíba e em setembro para a maior parte das unidades de Pernambuco e Alagoas. As chuvas que atingiram a região, mais uma vez, impediram o início da moagem em alguns casos, e, com isso, a oferta começou a aumentar em outubro. Nesta safra, observa-se que, por mais um ano, boa parte das unidades produtoras prioriza a produção de açúcar (destinado à exportação).
Assim como no ano-safra anterior, a contratação de etanol anidro segue forte, reduzindo os volumes destinados ao mercado spot. Na temporada 2023/24 (de agosto/23 a dezembro/23), os preços em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-M de dezembro/2023) caíram em relação aos de igual intervalo da safra passada, especificamente para o etanol anidro. No estado de Alagoas, a média mensal CEPEA/ESALQ do anidro foi de R$ 2,7239/litro, queda de 15,79%. Em Pernambuco, a baixa foi de 14,32%, para R$ 2,7218/litro, e na Paraíba, de 12,89%, a R$ 2,8742/litro.
Já para o hidratado, também em termos reais, os preços registram certa estabilidade. Considerando-se o Indicador CEPEA/ESALQ mensal do hidratado, em Pernambuco, a média de agosto/23 a dezembro/23 foi de R$ 2,5156/litro, avanço de 1,18% frente à da safra anterior. Em Alagoas, a média do hidratado subiu 0,81% (R$ 2,4175/litro) na mesma comparação. Na Paraíba, o valor médio do hidratado foi de R$ 2,5375/litro, leve baixa de 0,32%. Vale ressaltar que estes dados são parciais da safra, uma vez que a moagem nos estados do Nordeste ocorre até fevereiro e março (Assessoria de Comunicação, 9/1/24)