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Mundo está cada vez mais longe de respeitar Acordo de Paris

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Por Jeannette Cwienk

Desde julho, temperaturas médias globais batem recordes seguidos. Este ano pode se tornar o mais quente desde o começo dos registros, tornando quase impossível a meta de elevação máxima de 1,5 °C.

Outubro deste ano foi o mais quente já registrado em todo o mundo. De acordo com o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), órgão da União Europeia (UE), a temperatura média na superfície global esteve 1,7 °C acima da média estimada para os meses de outubro antes da era industrial (período de referência 1850-1900).

Desde junho, o Copernicus tem reportado todos os meses novos recordes de temperaturas: foram os meses de julho, agosto, setembro e agora outubro os mais quentes de todos os tempos. Muitos países europeus e a América do Norte tiveram de enfrentar neste ano novamente um calor recorde e incêndios florestais.

É quase certo que novembro e dezembro de 2023 baterão novamente recordes de temperatura. E não só no ar: também na temperatura da superfície do mar foram registrados valores recordes este ano.

“Podemos dizer com razoável certeza que 2023 será o ano mais quente já registrado, atualmente 1,43 °C acima da média pré-industrial”, disse Samantha Burgess, vice-diretora do C3S.

Juntamente com os dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), é possível ver que outubro de 2023 foi o “outubro mais quente em mais de 125 mil anos”, escreveu Burgess na plataforma LinkedIn.

Diferentemente do C3S, o IPCC também utiliza medições de núcleos de gelo, anéis de árvores e depósitos de corais.

Nível recorde de emissões

Para o diretor do Copernicus, Carlo Buontempo, está claro: “Os recordes de temperatura deste ano soam um alarme”. Segundo ele, para mitigar os perigos de um mundo em aquecimento, os gases de efeito estufa teriam de ser drasticamente reduzidos – e “muito, muito rapidamente”.

“Temos de fazer melhor uso do conhecimento existente e adaptar não só as políticas, mas também os nossos próprios hábitos e comportamento para essa necessidade”, disse Buontempo, em entrevista à DW.

Uma das causas para as altas temperaturas de 2023 são as elevadas emissões de gases de efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), elas atingiram um recorde global em 2022. Só as emissões de CO2 estiveram 50% acima dos níveis pré-industriais.

E as emissões continuarão a aumentar este ano. Por exemplo, as grandes empresas cotadas em bolsas de valores estão atualmente freando suas medidas de descarbonização, como mostra o Net Zero Tracker – uma análise da empresa de dados MSCI. Isto aumenta o risco de que o resultado seja mais emissões do que o permitido para se alcançar a meta de 1,5 °C estabelecida no Acordo de Paris.

Além disso, de acordo com o último relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os 20 mais importantes países produtores de petróleo, incluindo os EUA, a China, a Rússia e os Emirados Árabes Unidos, planejam produzir tanto petróleo, gás e carvão até 2030 que o aquecimento global poderá, por conta disso, subir até mais de 2 °C.

Previsão é que mortes causadas pelo calor aumentem 370% até 2050. Foto Bruna Prado AP Photo picture alliance

El Niño não é o único responsável

Outro agravante em 2023 foi o El Niño, fenômeno climático recorrente que aquece as águas superficiais no Pacífico Equatorial.

Apesar disso, os recordes de temperatura deste ano não podem ser explicados apenas por esse evento climático, destaca o diretor do Copernicus.

“Apenas alguns dos sinais de temperatura vêm da região do El Niño, mas a maioria vem de regiões completamente diferentes”, explica Buontempo. “O que aconteceu este ano no Canadá, nos EUA ou na Europa não tem nada a ver com o El Niño, mas com as alterações climáticas provocadas pelo homem.”

Meta de 1,5 °C provavelmente impossível

O aquecimento de 1,43 °C em relação aos tempos pré-industriais previsto para 2023 não significa, porém, que o limite de 1,5 °C acordado no Acordo Climático de Paris será ultrapassado em breve, explica Buontempo. No entanto, é quase certo que isso ocorrerá, o mais tardar, em meados da década de 2030. “A discussão agora gira mais em torno de como podemos voltar a ficar abaixo desse valor no futuro”, destaca.

Com um aquecimento global médio superior a 1,5 °C, existe o risco de consequências extremas em muitas áreas. Por exemplo, o número de mortes causadas pelo calor aumentaria 370% até 2050 – mesmo que a elevação da temperatura média global permanecesse ligeiramente abaixo dos 2 °C. Cientistas internacionais apontam isto num novo estudo publicado na revista The Lancet.

Mais vítimas e danos causados por condições climáticas extremas

As pessoas em todo o mundo já estão expostas ao calor extremo no dobro de dias do que no período de 1986 a 2005. O calor crescente também significa que há cada vez menos horas para trabalhar ou fazer exercício ao ar livre.

Na Alemanha, por exemplo, cerca de 34 milhões de horas de trabalho foram perdidas em 2022 devido às altas temperaturas. Além disso, o calor faz aumentar o risco de incêndios florestais e a propagação de doenças infecciosas tropicais em todo o mundo.

As chuvas extremas estão se tornando mais frequentes com as alterações climáticas provocadas pelo homem, e também causam muitas vítimas e danos, por exemplo, quando provocam inundações e destroem infraestruturas e agricultura.

De acordo com o Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático  (PIK, na sigla em alemão), especialmente nos países industrializados ricos, o crescimento econômico vem diminuindo, enquanto aumenta o número de dias chuvosos e de dias com precipitação extrema.

Adaptação climática a nível local

Além da redução urgentemente necessária das emissões de gases de efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis, a adaptação às alterações climáticas também deve ser acelerada, analisa Buontempo.

“Há muito que pode ser feito em nível local para preparar estados, regiões e municípios para as mudanças”, explica o especialista. “Porque mesmo que reduzamos as emissões para zero, viveremos num clima mais extremo nas próximas décadas – com mais secas, mais ondas de calor e mais inundações” (DW, 16/11/23)

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