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Açúcar: O mercado de açúcar e o gato de Schroedinger

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Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado de açúcar apresenta atualmente uma situação paradoxal que dificulta a compreensão da trajetória de preços no mercado futuro. Observamos um recorde na moagem de cana-de-açúcar, com estimativas para esta safra apontando um volume total de produção de até 635 milhões de toneladas, conforme demonstrado por especialistas durante o evento Canaplan realizado em Ribeirão Preto na última quinta-feira.

Além disso, há fortes indicações de que a produção de açúcar na região Centro-Sul poderá superar as 41 milhões de toneladas, que já estão sobrecarregando os portos para embarque do produto. Para se ter uma ideia de como está a situação, o line-up em Santos chega a 5.9 milhões de toneladas, segundo a Williams, com espera que pode chegar a 32 dias.

Enquanto isso, apesar das incertezas provocadas pela crise geopolítica no Oriente Médio, a Petrobras optou por reduzir os preços da gasolina em suas refinarias. No entanto, mesmo diante dessa série de notícias que podem influenciar negativamente o mercado de açúcar, Nova York mantém-se resiliente, com os preços próximos aos 27 centavos de dólar por libra-peso. O vencimento março/24 chegou a negociar a 27.67 centavos de dólar por libra-peso na quarta-feira, encerrando o pregão de sexta cotado a 26.85 centavos de dólar por libra-peso, representando uma queda de 18 pontos em relação à semana anterior, cerca de 4 dólares por tonelada.

O volume diário de contratos negociados na bolsa tem sido fraco, cerca de 40% abaixo da média facilitando a vida dos algotraders que fazem o mercado oscilar a seu bel prazer. Esses algotraders utilizam algoritmos para tomar decisões de negociação automatizadas com base em diversos critérios, como análise técnica, análise fundamentalista, indicadores de mercado e dados históricos de preços. Em geral, eles zeram suas posições ao longo do dia, assim, como não mantém posição, não estão sujeitos aos ajustes diários. Fazem muita espuma, mas não carregam posições. Junto com eles estão os fundos especulativos. Esses, por exemplo, uma vez mais adicionaram 11,600 lotes comprados durante a semana (terça a terça). Segundo o COT (Commitment of Traders), o relatório dos comitentes publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, eles agora estão comprados 187,185 lotes.

Incidentemente, na quarta-feira, o governo da Índia prolongou indefinidamente a proibição das exportações de açúcar. Isso parece ser uma notícia otimista, não é mesmo? No entanto, como é comum quando a Índia divulga informações que têm potencial para impulsionar os preços, o mercado reage de forma contrária. Como diz o ditado, se o mercado sobe com base em rumores e cai com a confirmação, é possível inferir que Nova York já tenha totalmente incorporado a ideia de que não haverá açúcar indiano disponível nesta safra. Ainda aguardamos confirmações.

Torna-se cada vez mais desafiador para aqueles que operam no mercado físico, seja com açúcar ou etanol, explicar a substancial diferença entre os valores desses dois produtos. Observa-se que o etanol está sendo comercializado por quase metade do preço do açúcar, o que gera uma disparidade significativa.

Podemos aceitar o fato de que, apesar dos fatores fundamentais mencionados anteriormente, o mercado permanece otimista. No entanto, mesmo com essa perspectiva otimista amplamente aceita, a primeira expectativa dos traders seria o fortalecimento do basis. Surpreendentemente, essa expectativa não se concretizou. Essa discrepância é tão notável que, contradizendo o que normalmente se esperaria em um mercado otimista, não seria inesperado que o desconto no basis do açúcar aumente. Isso aconteceria porque os produtores de açúcar podem considerar que é mais vantajoso oferecer um desconto maior no açúcar do que vender etanol a preços atuais. Contraditório, mas plausível

O mercado de açúcar pode ser uma versão adaptada do famoso paradoxo do “gato de Schrödinger”. No experimento mental proposto por Schrödinger, um físico austríaco que recebeu por isso o Nobel de Física há 90 anos, um gato é colocado em uma caixa junto com um frasco de veneno. Esse frasco pode ser quebrado por um mecanismo acionado por uma partícula subatômica. Até que alguém abra a caixa e observe o gato, ele está em um estado paradoxal, simultaneamente vivo e morto, conforme prevê as complexas leis da mecânica quântica.

Assim como no mercado de açúcar em que os preços se mantêm elevados, apesar das notícias e fatores que indicariam uma tendência de queda, o paradoxo do gato de Schrödinger ilustra uma situação em que algo aparentemente contraditório ocorre. Dessa forma, no mercado, mesmo quando as circunstâncias indicam uma queda nos preços, os participantes podem tomar decisões que mantêm os preços elevados, criando um estado aparentemente paradoxal de alta. Essa analogia ressalta como os mercados financeiros e a física quântica podem envolver situações complexas e aparentemente contraditórias que desafiam a compreensão convencional.

A pergunta que não quer calar: o que vai acontecer com o mercado/gato quando abrirmos a caixa?

Segunda-feira marca o início da semana do açúcar, e estou verdadeiramente ansioso para reencontrar tantos amigos. Já se passaram quatro anos desde o último Sugar Dinner no Brasil devido à pandemia, e será um prazer estar presente novamente. Tenho a honra de ter sido gentilmente convidado para participar do Seminário Santos Neto, a Conferência Datagro, o encontro da Copersucar/Alvean, o tradicional almoço da Sucden e o Jantar de Gala promovido pelo Sugar Club, que hoje tem Carlos Franco como presidente. Fui o primeiro presidente do Sugar Club no jantar inaugural em 2001, um mês após os atentados terroristas nos EUA que nos deixaram todos apreensivos. O tempo voa, meus queridos amigos… (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting, 20/10/23)

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