Produto está em desenvolvimento há mais de dez anos pelo CTC e agora está muito próximo de chegar ao mercado; plantio tradicional de “toletes” pode acabar no longo prazo.
Uma das tecnologias mais esperadas pelos produtores de cana-de-açúcar para aumentar sua produtividade é a semente sintética, em desenvolvimento há pelo menos uma década pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Produto similar, mas com outras características, chegou a ser anunciado por empresas independentes, mas os projetos foram descontinuados por não se mostrarem eficazes.
“É um projeto totalmente disruptivo; se der certo, vamos mudar meio milênio de plantio, pois hoje plantamos cana do mesmo jeito que era feito há cerca de 500 anos, quando ela foi trazida para cá”, diz Fábio Hayashida, diretor de Recursos Humanos e de Comunicação do CTC – empresa especializada em pesquisas no setor, com sede em Piracicaba (SP).
A nova semente “está na boca do forno, sendo testada em algumas fazendas, mas a data de lançamento ainda não foi definida”, informa Luiz Antônio Dias Paes, diretor de Vendas do CTC.
A semente desenvolvida em laboratório está em processo de registro de propriedade intelectual, por isso ainda não pode ser mostrada. Segundo ele, trará benefícios econômicos para o produtor, pois vai facilitar, otimizar e baratear o plantio.
Hoje, as sementes naturais, obtidas por polinização, são praticamente usadas para projetos de melhoramento genético. Além do custo mais elevado do cultivo, elas resultam em plantas diferentes umas das outras, que podem ter ou não boa qualidade.
Já o plantio convencional, feito com toletes (ou colmos) da cana em produção, gera mudas idênticas. Contudo, também tem custo alto pois exige uso de máquinas de grande porte, mais pessoal e área maior para plantio. Além disso, na colheita, o produtor tem de reservar 15% da cana para ser replantada e 85% são destinados à moagem para industrialização.
Com a semente, essa área que é destinada para as novas mudas também será usada para o plantio comercial. A cada 5 hectares de área, por exemplo, um é reservado para as novas mudas, mas isso não será mais necessário.
A gerente de Melhoramento Genético do CTC, Luciana Castellani, ressalta ainda que o novo formato de plantio deve acelerar o período de renovação das variedades já plantadas, que costuma levar de cinco a seis anos. “O material plantado será melhor, mais produtivo, mais saudável e vai fazer sentido renovar mais cedo, consequentemente produzir mais.”
Para fazer a semente sintética, o CTC retira o tecido da planta e cria uma nova semente. “É quase como produzir uma célula tronco, fazer o processo de germinação, depois encapsular mecanicamente, já com condições adequadas de substrato e indução, e depois plantar”, explica Paes.
A semente, cujo formato se assemelha uma rolha de garrafa de vinho um pouco maior, poderá ser semeada da mesma forma que se faz com o milho e a soja. “Exige menos investimento, barateia o plantio, diminui o número de maquinário e de pessoas na operação e aumenta a fitossanidade da cana”, acrescenta Hayashida.
O desenvolvimento da semente sintética é um trabalho conjunto dos profissionais do CTC em Piracicaba (SP) e da filial americana de Saint Louis, no Missouri (EUA), região conhecida como centro de biotecnologia agrícola do mundo. A unidade pertence ao CTC desde 2018.
A filial dos EUA, chamada Genomics, também atua junto com a matriz no desenvolvimento de novas tecnologias que ajudam no processo de melhoramentos das variedades da cana.
Tecnologias para o campo
Uma delas é o uso de drones que registram todo o processo do desenvolvimento da nova planta – como, por exemplo, se passou por algum estresse em períodos de pouca ou muita água, ou se teve crescimento mais acelerado ou mais lento que outra variedade. O objetivo é ser mais assertivo na seleção do clone campeão.
Outra tecnologia é um equipamento que consegue medir, no campo, o conteúdo de açúcar de uma variedade associada a cada tonelada de cana. Hoje, para fazer essa medição, a cana é colhida e triturada no laboratório, onde é avaliada. “Com essa ferramenta o processo é mais ágil e acelera a avaliação dos clones”, diz Luciana.
Também estão em desenvolvimento sensores que são colocados no solo para mapear o sistema radicular, parte da raiz responsável pela absorção da água e nutrientes. Vai ajudar a definir plantas mais resistentes a ambientes com pouca água e nutrientes,
O último são sensores que medem em tempo real a modificação fisiológica da planta em casos de stress hídrico e quanto tempo ela resiste a esse tipo de situação. Segundo Luciana, “são tecnologias existentes lá fora para outras culturas, mas estamos adaptando para a cana e validando medidores” (Estadão, 8/10/23)