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Aéreas põem em dúvida viabilidade do combustível “verde” para aviões

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Meta do setor é zerar a emissão de carbono até 2050, mas executivos das companhias aéreas dizem que provavelmente não terão como cumprir esse compromisso.

À medida que o setor de aviação busca alcançar o status de “carbono neutro” até 2050, o combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês) surgiu como a poção mágica para impulsionar as companhias aéreas e os fabricantes para essa nova era.

Mas o entusiasmo inicial com o combustível deu lugar a uma visão mais realista, se não totalmente pessimista, sobre a ambiciosa meta do setor. O SAF ainda é escasso e, portanto, caro. A geração das quantidades necessárias de combustível alternativo exigiria enormes áreas de terra e recursos naturais. E pagar a conta da mudança provavelmente recairia sobre os passageiros, já que o setor de aviação aponta para suas margens de lucro muito pequenas.

 O SAF é um biocombustível que pode ser produzido a partir de óleos vegetais (de cana-de-açúcar, milho ou palma, por exemplo), gorduras animais (como o sebo bovino) e até óleo de cozinha usado. Ele emite de 60% a 80% menos carbono do que o querosene de aviação (QAV) usado hoje e é tido como a principal ferramenta para as companhias aéreas atingirem a meta com a qual se comprometeram a zerar as emissões líquidas de carbono até 2050.

Mas os executivos que se reuniram em Lisboa para o World Aviation Festival, na semana passada, adotaram um tom pessimista em relação a essas metas. Embora não tenham sido totalmente abandonadas, os líderes, incluindo o presidente da Emirates, Tim Clark, pediram mais realismo. “Não se iludam com tudo isso”, disse Clark sobre as metas do setor. “Porque, se você afirmar que as coisas podem ser alcançadas em tal e tal momento, isso causará uma enorme disfuncionalidade.”

Os presidentes da International Airlines Group (IAG), Luis Gallego, e da Ryanair DAC, Eddie Wilson, também alertaram que o caminho para um setor livre de emissões será longo e caro. “A realidade é que temos objetivos ambiciosos, mas não temos como cumpri-los”, disse Gallego em Lisboa, onde sua apresentação no palco foi brevemente interrompida por um protesto de uma dupla de ativistas climáticos.

Para Tim Clark, é preciso um realismo maior nas discussões sobre o combustível verde.  Foto Bryan Snyder Reuters

Gallego também disse que o eSAF, um combustível sintético derivado de energia renovável, incluindo energia solar, hidrelétrica e eólica, pode ter mais ganho de escala do que os combustíveis alternativos disponíveis atualmente, que dependem de matérias-primas não petrolíferas.

O problema do eSAF, no entanto, é que sua produção consome muita energia. Tanto que, de acordo com o CEO da Deutsche Lufthansa AG, Carsten Spohr, ele consumiria metade de toda a produção de eletricidade da Alemanha para produzir o suficiente para sua frota.

Embora os executivos das companhias aéreas digam que as metas para 2050 ainda podem ser alcançadas, a produção de combustíveis alternativos ainda não chegou lá. A tecnologia mal representa 0,15% do suprimento global de combustível de aviação, de acordo com a Iata, a associação internacional das empresas aéreas, e o setor não consegue chegar a um acordo sobre como dimensionar sua produção para tornar o combustível alternativo mais abundante.

Mesmo o SAF comum é difícil de ser produzido nas quantidades necessárias, disseram os executivos.

“Para produzi-lo, você precisa de uma enorme quantidade de matéria-prima e de uma grande quantidade de água doce para cultivar a matéria-prima, e há uma grande divisão de opiniões sobre a possibilidade de isso acontecer”, disse o CEO da Dubai Airports, Paul Griffiths. “O SAF será um componente da agenda de sustentabilidade, mas os problemas de produção e escala e o diferencial de preços serão um grande problema.”

Clark disse que não era tarefa das companhias aéreas dimensionar e financiar a tecnologia para tornar o setor menos poluente. “A descarbonização do planeta custará trilhões de dólares e temos de encontrar o dinheiro para realizar as mudanças”, disse.

O diretor geral da Iata, Willie Walsh, apontou para uma maior necessidade de os governos criarem incentivos para o uso do SAF, algo que, segundo ele, está acontecendo nos EUA, mas em menor grau na Europa, onde não há uma estrutura política abrangente.

“A Europa assumiu uma posição em que pode obrigar as pessoas a usarem SAF”, disse Walsh em Lisboa. “Para mim, isso é um absurdo. As companhias aéreas têm usado cada gota de SAF disponível, apesar do custo muito alto.” (Bloomberg, 3/10/23)

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