O andamento da colheita da cana-de-açúcar da atual safra 2023/24 seguiu sem interrupções em agosto, devido ao tempo seco, mantendo a produção dentro da normalidade nas usinas. Esse cenário poderia exercer uma pressão de baixa sobre os preços do açúcar, mas a estabilidade verificada na primeira quinzena do mês e alta na segunda metade de agosto foram atribuídas à postura mais firme das usinas, tendo em vista a maior remuneração da commodity no mercado internacional.
As exportações de açúcar estiveram aquecidas, com rentabilidade superior à do mercado interno. O Indicador do Açúcar Cristal CEPEA/ESALQ (estado de São Paulo) acumulou avanço de 5,8% em agosto, fechando a R$ 141,94/saca de 50 kg no dia 31. A média mensal foi de R$ 135,27/saca de 50 kg em agosto/23, baixa de 1,26% em relação à de julho/23 (R$ 137,00/sc), mas elevação de 5% frente a agosto/22 (R$ 128,87/saca de 50 kg), em termos nominais.
Segundo a União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (Unica), a moagem de cana-de-açúcar na primeira quinzena de agosto registrou crescimento de 23,38% na comparação com o mesmo período do ciclo passado. Foram processadas 47,87 milhões de toneladas, contra 38,8 milhões.
No acumulado da safra 2023/24, a moagem atingiu 360,05 milhões, ante 322,48 milhões de toneladas registradas no mesmo período no ciclo 2022/23 – avanço de 11,65%. A produção de açúcar na primeira quinzena de agosto totalizou 3,46 milhões de toneladas. Relativamente à registrada na safra 2022/23, de 2,63 milhões de toneladas, apresenta aumento de 31,22%.
No acumulado desde 1º de abril, a fabricação do adoçante totaliza 22,68 milhões de toneladas, contra 18,63 milhões de toneladas do ciclo anterior (+21,69%). O mix de produção segue favorecendo o açúcar, que, no acumulado da safra, representa 48,93% do ATR estimado.
No Nordeste, houve lentidão nos negócios durante o mês, e queda nos preços de açúcar. Algumas usinas iniciaram a moagem da nova safra 2023/24, mas a prioridade foi a produção de VHP para exportação. Em agosto/23, o Indicador mensal do açúcar cristal CEPEA/ESALQ para Pernambuco foi de R$ 146,37/sc de 50 kg, baixas de 4% frente a julho/23 e de 5,27% em relação a agosto/22, em termos nominais.
Em Alagoas, o Indicador mensal foi de R$ 149,30/sc, recuos de 4,16% na comparação mensal e de 1,42% na anual, também em termos nominais. Na Paraíba, o Indicador mensal do cristal CEPEA/ESALQ foi de R$ 150,81/sc, baixas de 1,21% em relação a julho e de 0,22% frente a agosto/22.
Levantamento da Conab mostra que a produção de açúcar na região Norte-Nordeste pode somar 3,67 milhões de toneladas nesta safra, crescimento de 12% sobre a anterior (2022/23). Alagoas deve ser o maior estado produtor da região, com 1,64 milhão de toneladas, seguido por Pernambuco, 1,1 milhão de toneladas (+ 12,3% em relação à safra anterior), e Rio Grande do Norte, com produção de 218,7 mil toneladas (crescimento de 5,7%).
No mercado internacional, mesmo com o bom andamento da safra brasileira, os preços do açúcar demerara foram impulsionados por preocupações relacionadas ao desempenho da safra na Índia e na Tailândia, onde o tempo seco ameaça a produtividade no campo.
Segundo a Paragon Global Markets, agosto pode ter sido o mais seco na Índia desde 1901. Além disso, ainda existe a possibilidade de a Índia não exportar açúcar na sua próxima temporada, que se inicia oficialmente em 1º de outubro. Outro fator que deu sustentação aos preços do demerara na ICE Futures foi o avanço de 5% nas cotações do barril de petróleo no final do mês.
A alta do petróleo encarece a gasolina no mercado interno brasileiro, aumentado a competitividade do etanol e incentivando as usinas a produzirem mais biocombustível às expensas do açúcar. Cálculos do Cepea indicaram que, em agosto/23, as vendas externas do açúcar remuneraram, em média, 12,25% a mais que as internas. Esse cálculo considera o valor médio do Indicador CEPEA/ESALQ e do vencimento Outubro/23 do Contrato nº 11 da Bolsa de Nova York (ICE Futures), prêmio de qualidade estimado em US$110,56/tonelada e custos com elevação e frete de US$ 68,02/tonelada (Assessoria de Comunicação, 6/9/23)