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Sem Trump, agro brasileiro deixa de ganhar espaço no mercado externo

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Estilo briguento de candidato à Presidência dos EUA afeta exportação dos americanos.

A campanha presidencial desenha novos contornos nos Estados Unidos. Kamala Harris ganha terreno e o cenário está ficando cada vez menos favorável para o agronegócio brasileiro.

Boa parte do setor no Brasil se alinha às ideias de Donald Trump, e este, caso eleito, poderá abrir ainda mais as fronteiras mundiais do agro para os produtos brasileiros.

Briguento e contrário a acordos internacionais de comércio, o republicano fechou as portas para boa parte dos produtos americanos nos principais mercados mundiais durante o seu mandato, de janeiro de 2017 a janeiro de 2021.

Tentou esticar sua presença no governo, incentivando a invasão do Congresso, mas não conseguiu. O mesmo que ocorreu por aqui em 2023.

A política de Trump é a de afrontar principalmente os grandes importadores de produtos agrícolas dos Estados Unidos, como Europa, China e outros países da Ásia, principais regiões dependentes de produtos agropecuários.

Essa briga do ex-presidente, principalmente com a China, custou caro para os produtores americanos, seus apoiadores, e abriu novas portas para o produto brasileiro.

Jair Bolsonaro tentou a mesma política de Trump, principalmente contra a China, maior importadora do agronegócio brasileiro, mas lideranças do setor com ideias menos políticas e mais comerciais impediram.

Em 2018, quando Trump acentuou a guerra comercial com a China, os americanos exportaram apenas 8,2 milhões de toneladas de soja para o país asiático.

Em 2016, um ano antes de assumir o governo, as vendas externas dos americanos para a China eram de 36,1 milhões de toneladas dessa commodity.

Nesse mesmo período, o Brasil ganhou muito espaço no continente asiático. Em 2016, exportava 38,6 milhões de toneladas de soja para os chineses, volume que atingiu 74,5 milhões no ano passado.

Com a chegada de Joe Biden ao governo, as relações comerciais no setor agrícola ficaram menos tensas, mas as exportações não voltaram ao patamar anterior.

A procura chinesa pelo milho brasileiro mostra preocupação ainda maior do país asiático com a dependência americana. Em 2021, a China importou 18,7 milhões de toneladas do cereal dos Estados Unidos, e praticamente nada do Brasil.

No ano passado, as importações chinesas de milho feitas nos Estados Unidos recuaram para 5,7 milhões de toneladas, e as feitas no Brasil subiram para 16,1 milhões.

O espírito beligerante de Trump favoreceu também as vendas externas brasileiras de proteína animal. Após a proliferação da peste suína africana na China, o país ficou bastante dependente de carnes vindas do exterior.

O Brasil, que exportava 736 mil toneladas em 2016, atingiu o recorde de 2,3 milhões para os chineses no ano passado.

Os americanos, um dos fornecedores dos chineses até então, tiveram uma forte perda na participação do setor em 2018, em plena crise da peste suína africana. Voltaram a ganhar espaço nos anos seguintes, mas 2023 foi mais um período de retração. Das 400 mil toneladas, em 2016, os americanos colocam 1,1 milhão atualmente no mercado chinês.

A desaceleração das exportações do agronegócio americano não ocorreu, no entanto, apenas por questões políticas.

O país passou por severa seca no período, redução do rebanho bovino para o menor patamar desde a década de 1950, crise sanitária —com avanços de doenças nos setores de frango, suínos e bovinos—, elevação de custos de produção e aumento da concorrência externa.

Muitos desses problemas, porém, também foram sentidos por concorrentes diretos dos americanos, inclusive pelo Brasil.

Ao contrário do que ocorre no Brasil, o agronegócio americano vive uma estagnação no mercado externo. As exportações do setor, que eram de US$ 139 bilhões em 2016, chegaram a US$ 174 bilhões no ano passado.

No mesmo período, o Brasil saiu de US$ 85 bilhões para US$ 167 bilhões. Em 2023, enquanto os americanos tiveram déficit de US$ 21 bilhões na balança comercial do agronegócio, os brasileiros obtiveram superávit de US$ 150 bilhões.

As exportações dos Estados Unidos, após a marca de US$ 196 bilhões em 2022, recuaram para US$ 174 bilhões no ano seguinte. As receitas brasileiras saíram de US$ 159 bilhões, em 2022, para US$ 167 bilhões, no ano passado.

A China desconfia cada vez mais da política internacional dos americanos e, sempre que pode, busca novas alternativas de mercados. Foi o que ocorreu com as relações comerciais com o Brasil.

Ao optar pelo mercado brasileiro, os chineses incentivaram a produção nacional, tornando o mercado cada vez mais apto para exportar para os asiáticos.

A candidatura de Kamala não demonstra, ainda, uma objeção tão forte aos chineses como a de Trump. A China, no entanto, parece duvidar cada vez mais de um relacionamento saudável entre os dois países.

Por ora, Kamala deve levar para a campanha o fortalecimento dos direitos dos trabalhadores rurais, o bem-estar animal e a política energética limpa, mas um relacionamento mais cauteloso com o país asiático não está descartado (Folha, 27/8/24)

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