Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado futuro de açúcar em Nova York teve uma queda bastante acentuada na semana encurtada pelo feriado nos Estados Unidos. O vencimento outubro/25 fechou a 15.58 centavos de dólar por libra-peso, recuo de 76 pontos em relação à sexta-feira anterior, o que equivale a uma perda de 17 dólares por tonelada. O mercado ficou atônito. O contrato de março/25, próximo na curva, também caiu 78 pontos (17,20 dólares por tonelada), encerrando a 16,20 centavos.
Os demais vencimentos da safra 26/27 fecharam, em média, com queda de 60 pontos, enquanto a 27/28 registrou baixa de cerca de 30 pontos. O movimento foi generalizado e confirmou o viés de baixa do mercado.
O relatório do CFTC (Commodity Futures Trading Commission) agência americana reguladora dos mercados de commodities, publicado hoje com base nas posições da última terça-feira mostrou que os fundos ampliaram ainda mais sua posição vendida a descoberto, atingindo 149,759 contratos – aumento de 17,260 na semana. Em outras palavras: uma força vendedora colossal.
Lembrando que os fundos continuaram vendendo nos dias seguintes à terça e esse furor não está refletido nessa posição. Eles podem estar vendidos mais de 160,000 contratos.
Mas é importante lembrar que fundos não seguem lógica fundamentalista. Eles não têm mente nem coração, apenas algoritmos que disparam ordens de compra e venda a partir de modelos matemáticos.
Vale recordar o que ocorreu em 2023. Naquele fim de ano, perto do Sugar Dinner no Brasil, os fundos compravam sem parar, semana após semana, levando os preços a novas máximas. Tentava-se criar narrativas que justificassem esse comportamento, mas, no fim, os fundamentos – uma safra extraordinariamente grande – falaram mais alto e o mercado despencou.
A questão agora é se estamos diante do espelho daquela situação. De um lado, os fundamentos parecem apontar para cima. Do outro, os fundos empurram o mercado para baixo. Qual força vai prevalecer?
Além da pressão dos fundos, há também fatores técnicos ligados ao mercado de opções que merecem atenção. As opções de outubro/25 expiram na segunda-feira dia 15 de setembro. Quando o mercado chegou a 17 centavos de dólar por libra peso, muitas empresas – inclusive usinas e tradings – aproveitaram para vender puts (opções de venda) abaixo desse nível, tentando gerar algum ganho extra em suas operações. O problema é que, depois de perder os 17 centavos, o mercado rapidamente foi buscar os 16 e continuou caindo.
Entre os preços de exercício de 15 a 17 centavos, existem cerca de 60 mil lotes de puts (opções de venda) vendidos em aberto. Isso significa que, caso o mercado permaneça nesses níveis, parte desses vendedores pode acabar tendo que assumir posições compradas em futuros na expiração. Para evitar isso, muitos optam por zerar ou ajustar suas posições antes, o que gera pressão adicional de venda no mercado futuro. Ou seja: esse fator técnico ligado às opções pode continuar pesando sobre o mercado até a expiração. É um ponto que merece atenção.
Nos últimos dez anos, a média de preços de setembro foi maior do que a média de agosto em 70% das vezes. Já a média de outubro foi maior do que a de setembro em 88% das vezes nos últimos 25 anos.
Mudando um pouco de assunto, algumas questões estão incomodando e começam a ganhar espaço, ainda que de forma discreta, no radar do mercado internacional. Entre elas, a preocupação – ainda que pontual – com a percepção de qualidade e integridade do açúcar brasileiro no embarque. Nada é dito abertamente, mas é legítimo supor que compradores lá fora se perguntem sobre a confiabilidade do produto que recebem. Esse tipo de dúvida, mesmo não declarada, pode influenciar decisões comerciais no médio prazo.
Outro ponto que chama atenção é o rumo tomado pelo setor. Há alguns anos, o consenso era de que a tendência natural seria a consolidação, com grupos maiores absorvendo os menores. O que se vê agora é exatamente o contrário: ativos relevantes sendo desmembrados e vendidos para outras mãos por determinado grupo que encara enorme endividamento, ao mesmo tempo em que importantes unidades produtoras optam por seguir caminhos próprios fora de estruturas coletivas. Esse movimento, ainda em estágio inicial, pode redesenhar a configuração do setor nos próximos anos. Espero que seja para melhor.
As usinas do Nordeste enfrentam dificuldades na produção de açúcar branco em função das chuvas intensas, que têm atrasado o ritmo de moagem. Em Pernambuco e Alagoas, a produção alcança menos de 30% do volume esperado para esta época da safra. A menor disponibilidade do produto no mercado tem sustentado o prêmio do açúcar branco, que já chega a até 30 dólares por tonelada sobre Londres.
Até lá, o mercado seguirá refém de forças técnicas e especulativas, enquanto os fundamentos aguardam seu momento de prevalecer.
Para nosso colaborador Marcelo Moreira, o vencimento out-25 – após negociar na máxima da semana a 16.52 centavos de dólar por libra-peso – não teve forças e encerrou a semana a 15.58 centavos de dólar por libra-peso. O out-25 rompeu e encerrou abaixo do suporte da Banda de Bollinger dos 50 dias (15.81 centavos de dólar por libra-peso) e ainda caminha para fechar o gap do dia 11 de novembro de 2022 a 15.28 centavos de dólar por libra-peso – mínima dos últimos 3 anos.
Próximas resistências agora a 15.81 / 16.18 / 16.34 / 16.85 e finalmente 17.61 centavos de dólar por libra-peso. O spread out-25 x março-26 voltou a fechar para os 60 pontos e pode ser um “bom ponto de entrada” para quem acredita em uma reversão no médio prazo. Em algum momento os fundos irão reverter a posição “vendida” e o eventual movimento de alta poderá ser muito forte. Atenção!
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