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Como deve ficar o agro do Brasil com o retorno de Trump à Casa Branca?

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Por Pasquale Augusto

Donald Trump desbancou Kamala Harris e retornou ao comando da principal economia do mundo. O candidato republicano conquistou o estado de Wisconsin, somando 277 delegados e superou o total de 270 votos necessários para ser eleito, segundo a agência de notícias The Associated Press.

Desde o começo de 2024, o agronegócio dos EUA e do Brasil tentava entender os efeitos que uma possível retomada de Trump representaria.

Segundo Leandro Consentino, doutor em ciência política pela USP e professor no Insper, em primeiro lugar do candidato republicano representa um distanciamento do governo brasileiro.

“Pensando do ponto de vista político, com a eleição, o governo Lula passar a ter uma maior dificuldade em uma conversa política mais estreita entre os países, o que pode afetar o agro em alguma medida. Já pelo lado econômico, a vitória de Trump traz um caráter dúbio, já que é uma vitória de um presidente com claras tendências protecionistas”, vê.

Maior protecionismo e juros mais altos

Na visão de Consentino, vender para os EUA deve ficar mais difícil, dada às tarifas norte-americanas. “Por outro lado, como essa proteção vai ser aplicada ao mundo todo, ela também pode ser aplicada, por exemplo, à China, abrindo um espaço maior para que as commodities brasileiras entrem no gigante asiático novamente com força e em outros países também”.

Sendo assim, ainda que fique mais caro para que o Brasil leve seus produtos aos Estados Unidos, esse cenário abre uma gama de possibilidades para o país exportar para outros importantes mercados.

“A tendência também é que os Estados Unidos tomem medidas que acabem elevando um pouco a inflação. Tarifas e a possibilidade de barrar imigrantes claramente têm efeitos inflacionários que vão fazer os juros subirem no Federal Reserve (Fed). E isso respinga aqui no Brasil, trazendo também uma maior dificuldade do ponto de vista de crédito, com juros mais altos”, discorre. 

Retomada do protagonismo dos EUA e aproximação entre Brasil-China

Da mesma maneira que aconteceu entre 2017 e 2021, durante o primeiro mandato de Trump, os EUA devem ter um maior protagonismo no sentido de política externa e comercial, para o bem e para o mal, segundo Leandro Gilio, professor e pesquisador especializado em agronegócio no Centro de Agronegócio Global do Insper.

“Pelo o que o Trump propagou durante a campanha, essa postura parece que vai permanecer a até possivelmente se aprofundar nesse segundo mandato. Com relação ao agro, para o Brasil nós já tivemos alguns episódios favoráveis – na guerra comercial entre EUA e China lá em 2018, nós ganhamos mais mercado e passamos os EUA como maior fornecedor de soja para a China, por exemplo”, explica.

Portanto, caso ocorra uma retaliação da China quanto a uma elevação de tarifas, como ocorreu no passado, isso pode beneficiar produtos do agro brasileiro, como carnes, algodão e milho.

“Apesar do aumento das compras de soja brasileira, é bom lembrar que os EUA entregam mais no segundo semestre, e nós no primeiro. Há uma complementaridade de oferta e provavelmente a China deve tentar manter esse fornecimento. Lembrando que EUA e China chegaram a assinar um acordo relacionado à guerra comercial, com a promessa da China pela elevação consistente das compras de produtos agrícolas norte-americanos, que não veio a se concretizar”.

No caso de um acordo concreto desse tipo no futuro, isso pode ter um efeito negativo para o Brasil. “Outra questão que o Trump mencionou durante a campanha era o maior suporte ao produtor norte americano, o que pode estimular a oferta no mercado, podendo levar a queda de preços de alguma maneira”, completa.

Fora isso, o pesquisador do Insper acredita que o movimento protecionista também pode ser adotado por outras nações. “Podemos pensar o mesmo para o clima de instabilidade internacional, com uma participação mais incisiva dos EUA em conflitos. Isso pode fazer com que os mercados fiquem mais instáveis, o que não é interessante para nações emergentes como o Brasil, tornando o câmbio menos previsível e uma tendência a elevação dos juros” (Money Times, 6/11/24)

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