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Açúcar: Determinístico ou aleatório?

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Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana demonstrando enorme solidez alimentada basicamente por dois fortes rumores que acabaram não se materializando: o primeiro especulava-se no mercado acerca do reajuste no preço da gasolina que a Petrobras iria praticar nas refinarias ao redor de R$ 0,83 por litro e o segundo, o rigor do clima frio que afetaria as regiões produtoras com devastador impacto no canavial.

Pelas previsões alarmistas que andei lendo tive a impressão que acabaria encontrando um casal de pinguins andando de mãos dadas no calçadão de Santos. O que importa para o mercado – e em particular para os fundos especulativos – é a versão e não o fato. É a versão que chacoalha o mercado. É ela que tem charme. Os fatos são aborrecidos e são “apenas” os fatos.

E assim, agarrado à versão, o mercado futuro de NY explodiu e o vencimento julho/22 encerrou a sexta-feira cotado a 19.98 centavos de dólar por libra-peso, uma elevação de 81 pontos ao longo da semana (equivalentes a quase 18 dólares por tonelada). O real se valorizou frente ao dólar chegando a negociar R$ 4.8500 o que, na prática, neutralizou a subida de NY em reais por tonelada.

Os fundos, segundo o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base nas posições da última terça-feira estavam comprados 129,127 lotes, um acréscimo de 36,791 contratos na semana. Estão vendo quem está colocando o mercado para cima, né?

Na contrapartida a essa euforia irrefletida, o governo indiano informou na sexta-feira que não deseja proibir as exportações de açúcar e pretende alcançar ainda nesta temporada (que vai até final de setembro) entre 10 e 10.5 milhões de toneladas de açúcar exportadas, volume que nem o mais otimista trader poderia imaginar. E, disse também o oficial indiano, que na safra 22/23 (iniciando em outubro deste ano) a Índia vai exportar pelo menos 7.5 milhões de toneladas de açúcar.

Repetindo o mantra que temos usado aqui há algumas semanas, existem vários aspectos que podem fazer o mercado ir para qualquer direção, mas olhando os fundamentos desapaixonadamente, o curto prazo é mais limitado a uma reação dos preços acima de 20 centavos de dólar por libra-peso do que, por exemplo, o vencimento março/23 em diante.

Os números de moagem de cana e da produtividade a serem publicados pela UNICA nas próximas duas ou três quinzenas trarão maior visibilidade do caminho que o mercado poderá percorrer ao longo desta safra. Confirmadas a menor moagem e produtividade, abrem as discussões sobre quanto haverá de disponibilidade de açúcar (o excesso das 20 milhões de toneladas já comprometidas) e quão apertada será a disponibilidade de etanol. Muita atenção a esses números!

O eventual ajuste de preços da Petrobras, cuja defasagem está em R$ 1,0000 por litro na refinaria, traria um impacto de R$ 0,4000 por litro no preço da gasolina na bomba e poderia elevar o preço do etanol na usina em torno de R$ 4,3000 por litro com impostos. Se aplicado integralmente, o ajuste elevaria o ponto de equilíbrio com o açúcar para 21.50 centavos de dólar por libra-peso NY equivalente. Será?

Se você dirigir um automóvel do ponto A ao ponto B, distantes 100 quilômetros entre eles, imprimindo uma velocidade constante de 80 km/h numa rodovia em linha reta, você deverá chegar ao seu destino em uma hora e quinze minutos, com pouquíssima variação. Temos a distância e a velocidade e num processo puramente determinístico sabemos o resultado simples da equação acima: o tempo que leva para percorrer do ponto A para o ponto B. Os astrônomos sabem precisamente quando será o próximo eclipse com base na órbita da Terra e da Lua porque estas são constantes. Esse é o melhor exemplo de um processo determinístico.

No entanto, mesmo num modelo determinístico podemos ter variáveis que vão tornando mais labiríntico o resultado. Se existem pedágios na rodovia, ou se ela cruza uma via férrea, ou se vai chover, entre outras variáveis e relações mais ou menos complexas, serão determinantes para afastar a resposta daquela uma hora e quinze minutos.

Infelizmente, os mercados não funcionam assim. Podemos analisar todo um número de eventos e variáveis complexas que orbitam no nosso ambiente, investir milhões de dólares na concepção de um modelo matemático que vai nos dar o próximo preço do açúcar com quatro casas decimais de precisão, recrutar as melhores mentes do mercado que, mesmo assim, não seremos capazes de ter 100% de certeza que o resultado final dessa análise será correto. O mercado não é determinístico, ele vive sob um processo estocástico.

Essa aleatoriedade significa que dentro do processo temos uma cadeia de variáveis aleatórias relacionadas com os eventos (fatores exógenos ou relacionados com os fundamentos do ativo) e com o tempo, cujos resultados são imprevisíveis. Se você pensava que tomar decisão em commodities era algo simples, melhor pensar novamente (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting)

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