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Hidrogênio verde pode ser chave para a reindustrialização do Brasil

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Com alto potencial produtivo, país pode se tornar exportador do combustível nos próximos anos.

O hidrogênio verde, combustível obtido por meio de fontes de energia renováveis, pode ser a chave para a reindustrialização do Brasil e a inserção do país na nova economia global baseada na transição para o baixo carbono.

O tema foi debatido no seminário Energia Sustentável no Brasil, realizado na quarta (28), pela Folha com apoio da Órigo Energia, e do Banco do Nordeste.

O combustível tem inúmeras aplicações, como a substituição de fontes fósseis nos transportes e na indústria, ajudando no cumprimento das metas climáticas previstas no Acordo de Paris, que pretende evitar que a temperatura média suba acima de 1,5ºC.

Entre os estados brasileiros, o Ceará é o que tem maior número de projetos previstos. De acordo com o governador Elmano de Freitas (PT), já foram assinados 30 memorandos de entendimento com empresas nacionais e estrangeiras, com uma sinalização de investimentos acima de US$ 30 bilhões (R$ 145,7 bilhões). Desses, há três pré-contratos já firmados, nos quais a previsão de investimento é de US$ 8 bilhões (R$ 38,8 bilhões).

Freitas afirmou que o Nordeste tem potencial para produzir hidrogênio verde em um volume superior ao que o Brasil pode consumir. Essa condição transforma o país em um exportador do combustível, além de abrir uma nova matriz energética, mais limpa, para a indústria nacional.

“Os desafios para avançar nesta produção estão na regulamentação, no crédito e em um tratamento diferenciado na reforma tributária, que precisa entender que o tema é estratégico”, disse ele.

O estado também estuda incluir micro e pequenos geradores no fornecimento de energia solar para os projetos de hidrogênio verde. A ideia é começar com um piloto de geração em assentamentos rurais, de modo que a energia produzida atenda ao consumo das famílias e o excedente possa ser comercializado com as empresas que pretendem produzir o combustível.

Segundo o governador, isso viria acompanhado de um projeto de capacitação de cerca de 100 mil jovens. “A geração distribuída pode ser uma porta de saída do Bolsa Família e formar uma nova classe média no interior do país.”

A demanda global pelo hidrogênio verde cria oportunidades para o Brasil de atrair investimentos da ordem de US$ 200 bilhões (R$ 971,5 bilhões) até 2040, segundo estudo da consultoria McKinsey.

O país é competitivo em razão do custo favorável da geração de energia de fontes limpas —já que a energia responde por 70% do custo de produção do hidrogênio verde.

Só a demanda do mercado doméstico, que deve representar 60% do total, pode gerar, até 2040, receitas de US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões (R$ 78,8 bilhões a R$ 97,1 bilhões).

As exportações para EUA e Europa poderiam acrescentar outros US$ 4 bilhões a US$ 6 bilhões (R$ 19,4 bilhões a R$ 29,1 bilhões), segundo a McKinsey.

“Esse mercado vai ser impulsionado em um horizonte de dez anos”, diz o senador Cid Gomes (PDT-CE), que preside a comissão especial para debate de políticas públicas sobre hidrogênio verde do Senado. Existe também uma comissão na Câmara dos Deputados discutindo o tema.

De acordo com Gomes, as três principais frentes de demanda virão do mercado externo, sobretudo o europeu, que busca substitutos para o gás natural russo. Depois, virá o mercado doméstico, especialmente para a produção de fertilizantes, e a indústria que busca meios para mitigar suas emissões.

A criação de um marco regulatório para regulamentar a produção do hidrogênio verde deverá tramitar rapidamente nas duas casas, em consonância com o Executivo.

A expectativa, disse o senador, é que até o fim do primeiro semestre de 2024 a regulamentação saia, assim como para as usinas eólicas offshore, que devem incrementar ainda mais a produção de energia para abastecer as futuras fábricas do combustível.

“Não estamos atrasados. Nem a Europa, que será o primeiro grande cliente do hidrogênio verde brasileiro, tem uma regulamentação pronta. O importante é que estamos sintonizados”, afirmou.

O apoio financeiro para a criação de uma cadeia produtiva para o hidrogênio verde no Brasil deverá vir de fontes de capital variadas, o chamado “blended finance”.

Em 2022, o BNDES lançou um programa para incentivar projetos-piloto de produção de hidrogênio de baixo carbono, com a combinação de três instrumentos de apoio: o Fundo Clima, que financia projetos de geração e distribuição de energia renovável a partir de R$ 10 milhões; e o BNDES Finem Meio Ambiente e Finem Inovação, linhas de crédito voltadas à inovação e tecnologias sustentáveis. Posteriormente, o banco deverá ampliar as linhas de apoio.

Uma inspiração é o sucesso da indústria ligada à geração de energia eólica no Brasil, que foi impulsionada a partir da década de 2000 pela exigência do banco de que os projetos eólicos tivessem um percentual de equipamentos fabricados no país. Isso fez com que essa cadeia produtiva se desenvolvesse no Nordeste.

 “A ideia é ampliar recursos, mantendo o ‘blended finance’, para termos um custo de capital competitivo e alavancar os investimentos necessários”, disse Guilherme Arantes, gerente da área de transição energética e clima do BNDES.

Os projetos brasileiros devem contar ainda com o fomento do Banco Mundial. Em 2022, na COP 27, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas, no Egito, o órgão lançou o programa H4D, para fomentar o mercado de hidrogênio de baixo carbono nos países em desenvolvimento.

A iniciativa prevê parcerias para catalisar financiamentos públicos e privados, e, no Brasil, já tem acordos firmados com o governo do Ceará, a Absolar (representante da geração de energia solar) e a CCEE, câmara de comercialização de energia elétrica.

“A iniciativa respeita a política que cada país tem em relação à produção de hidrogênio de baixo carbono. No Brasil, queremos impulsionar um fundo de capital de risco para a região Nordeste”, afirma Carlos Costa, economista sênior de energia do Banco Mundial.

As conversas também estão avançadas com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo (Folha de S.Paulo, 30/6/23)

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