Com embarques suspensos e estoques parados, empresários querem evitar colapso nas vendas externas a partir de agosto; essa foi a mensagem ao vice-presidente
Geraldo Alckmin discutiu alternativas à nova tarifa com principais nomes do setor.
O Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, liderado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, reuniu na tarde desta terça-feira (15) representantes da indústria de alimentos e empresários do agronegócio para discutir alternativas à nova tarifa de 50% para produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na última semana.
“Atualmente, o setor de carnes é taxado em 35%. Com esses 50 adicionais, as exportações se tornam inviáveis. Estamos sugerindo a prorrogação da tarifa porque existem contratos em andamento, além de cerca de 30 mil toneladas no porto ou já nas águas”, disse Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), entidade que representa grandes empresas como JBS, Marfrig e Minerva, após a reunião. Hoje, frigoríficos do Mato Grosso do Sul suspenderam a produção de carne para os EUA, para evitar o acúmulo de estoques que não seriam vendidos, segundo comunicado do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sincadems).
Paulo Bellincanta, presidente do Sindicato das Indústrias de Frigoríficos do Estado de Mato Grosso (Sindifrigos), afirmou que acompanha com apreensão o desenrolar diplomático da imposição da tarifa de 50% sobre a carne brasileira. “Sob pressão recebemos uma taxação injusta e desleal, que sem dosagem no caso a caso, é um erro que pode prejudicar quem está de um lado ou de outro da fronteira”.
O aumento tarifário também deve impactar diretamente outras cadeias agroindustriais relevantes para o comércio exterior brasileiro, como a do café, suco de laranja e outros produtos. Se não houver negociação entre os dois países, a tarifa passará a valer a partir de 1º agosto. “A intenção do governo é reverter o cenário até dia 31 de julho”, afirmou Alckmin.
Para Marcio Ferreira, presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CECAFÉ), o papel do setor, por enquanto, é dialogar com grandes importadores daquele país. “A taxação vai tornar o café inflacionado para o consumidor norte-americano”, disse. Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira de Indústria do Café, completa que a situação precisa ser negociada com “urgência e em curto prazo”.
O setor da fruticultura também pode ser seriamente afetado pela nova taxação de Trump. “A safra de laranja está bem no começo e vai até janeiro. É uma safra inteira que será colhida sem saber se os EUA vai estar disponível ou não”, disse Ibiapaba Neto, diretor da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), entidade de indústrias brasileiras de suco de laranja (e outros cítricos). Na safra 2024/25, os EUA representaram 41,7% das exportações brasileiras de laranja.
Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), também demonstrou preocupação com a manga. “Estamos inseguros porque se não exportarmos manga para os EUA, não podemos enviá-la para a Europa porque o preço vai desabar”, afirma.
As exportações de frutas brasileiras para os EUA atingiram US$ 148 milhões em 2024, e a manga é o principal produto embarcado. No ano passado, foram 36 mil toneladas para o país. Produtores da fruta do Vale do São Francisco já paralisaram as negociações dos embarques que começariam em agosto.
O setor de pescados também pode ser severamente afetado pela nova tarifa. O mercado norte-americano é o principal destino das remessas internacionais da piscicultura brasileira. Tilápia e tambaqui são as principais espécies embarcadas para os EUA. “Uma possível interrupção nas vendas externas representa uma ameaça concreta à continuidade de contratos comerciais e, sobretudo, à manutenção de postos de trabalho em território nacional”, afirmou a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), em nota (Forbes, 15/7/25)