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O caos de Trump e a encruzilhada do Brasil

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Editorial O Estado de S.Paulo

A resposta brasileira à guerra tarifária não pode ser choro nem revanche, tampouco pacotões desenvolvimentistas. A única saída sensata é acabar com o protecionismo que nos condena ao atraso.

As guerras comerciais de Donald Trump têm pouco de estratégia coerente e muito de improviso. Com suas ameaças em série, adiamentos arbitrários, critérios erráticos e objetivos sobrepostos – ora segurança nacional, ora imigração, ora déficits bilaterais –, o presidente dos EUA transforma a política comercial em espetáculo imprevisível. O resultado é um colapso de confiança que mina o sistema global de trocas. Trump não só eleva tarifas: ele destrói expectativas.

Em vez de seguir regras claras, os EUA de Trump operam à base de cartas biliosas, improvisos táticos e chantagens desconexas. Um dia o inimigo é a China, no outro, o Brasil, o México, o Canadá, a Europa – ou todos ao mesmo tempo. O objetivo nunca é só comercial: Trump exige concessões em áreas desconexas, como regulação de tecnologia ou política de drogas. Para quem negocia, tudo pode ser moeda de troca. Essa instabilidade dissolve a previsibilidade que sustenta o comércio internacional, com custos severos: crescimento mais lento, investimento travado, empresas acuadas.

Mas há um paradoxo. Justamente por ser errático, Trump também é um adversário maleável. Reage mal à confrontação direta, mas frequentemente recua quando lhe oferecem um acordo que possa vender como troféu. Foi assim com a China em 2020, com o México neste ano e, há poucos dias, com a União Europeia. A chave é o pragmatismo: oferecer gestos que soem grandiosos, mas custem pouco. Em vez de bravatas ou confrontos ideológicos, o que funciona é paciência estratégica.

O presidente Lula da Silva escolheu o caminho oposto. Optou por transformar Trump em um espantalho eleitoral.

Preferiu o palanque à diplomacia, a retórica patrioteira à busca de canais de diálogo, minando os esforços diplomáticos de técnicos e empresários. Para o eleitorado, o confronto parece render popularidade. Mas, para o Brasil, o custo é alto.

Enquanto outros países buscam interlocutores com acesso direto a Trump, o Brasil se isola. E corre o risco de desperdiçar as oportunidades que essa crise oferece. Porque, se bem administrado, o conflito pode servir como catalisador para mudanças que o País há muito precisa implementar.

O Brasil vive há décadas num modelo protecionista que prometia desenvolvimento, mas entregou estagnação. A tentativa de “substituição de importações” produziu um setor industrial inchado, pouco competitivo e dependente de subsídios. A baixa abertura comercial ajuda a explicar nossa produtividade estagnada, nossas pressões inflacionárias e nosso eterno atraso.

Entre os países mais fechados do mundo, o Brasil continua apostando em tarifas e barreiras alfandegárias como instrumentos de fortalecimento nacional. Mas o resultado é o oposto. O protecionismo encarece insumos, desestimula inovação, agrava desigualdades, afasta investimentos e promove o clientelismo. Enquanto isso, países que abriram suas economias com inteligência – como a Índia, hoje mais bem colocada que o Brasil nos rankings de competitividade – colheram ganhos concretos em produtividade e crescimento.

A resposta brasileira à guerra tarifária não pode ser choro nem revanche, tampouco novos pacotões desenvolvimentistas fora dos limites orçamentários. A única saída sensata e sustentável é a abertura gradual, porém decidida, da economia. Não para agradar Trump, mas para beneficiar o País. Abrir mercados, eliminar distorções tarifárias, revisar subsídios regressivos, promover acordos bilaterais e fortalecer cadeias globais de valor – essa deveria ser a agenda. O comércio sadio é um jogo de soma positiva: todos ganham quando há regras claras, concorrência justa e integração.

O governo precisa abandonar o discurso ressentido e mirar o futuro com pragmatismo. Isso inclui preservar a soberania nacional – o que significa não ceder à chantagem trumpista em temas como a autonomia do Judiciário –, mas também reconhecer os próprios erros e limitações. Não é porque Trump está errado que o Brasil está certo. É hora de agir como país adulto: firme nos princípios, flexível na tática e ambicioso na estratégia. Trump passará. O atraso, se cultivado, fica (Estadão, 29/7/25)

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