Investimento já começou a ser feito e é bancado em boa parte com recursos dos próprios agricultores.
Um grupo de 34 produtores rurais da região de Sinop (MT) se uniu e começou a investir R$ 1 bilhão, boa parte com recursos do próprio bolso, para erguer uma usina de etanol de milho no município. A planta da nova empresa, a Evermat, será vizinha à usina da Inpasa, a maior indústria de etanol de milho do mundo, e aumentará a demanda local pelo grão produzido no norte matogrossense.
A planta da Evermat terá capacidade inicial para processar até 440 mil toneladas de milho por ano, mas poderá ter o dobro disso a depender das condições de mercado. A unidade competirá com a demanda da usina da Inpasa, que está a 50 quilômetros do novo empreendimento e processa 4,6 milhões de toneladas de milho por ano. Também enfrentará a concorrência de fábricas de ração de menor porte e das tradings, que têm diversos silos na região.
Apesar dos volumes elevados de demanda por milho nas redondezas, a oferta de milho na região ainda é bem mais abundante. Em 2023, o município de Sinop e seus vizinhos (Sorriso, Vera, Santa Carmem, Tapurah e Itaúba) colheram 7,7 milhões de toneladas de milho na primeira e segunda safras, segundo a Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE referente àquele ano.
Somente os sócios da Evermat têm uma área disponível para cultivo agrícola de mais de 100 mil hectares. Dada a produtividade média do milho de segunda safra em Sinop nas última cinco temporadas, a produção média desses produtores apenas na safra de inverno está em torno de 600 mil toneladas — mais do que o suficiente para atender a necessidade da primeira fase da nova usina.
Os mesmos produtores já tinham se unido há cinco anos, quando fundaram a Cooperativa Agroindustrial do Norte de Mato Grosso (Coanorte). A usina, porém, não está ligada à cooperativa, e é de propriedade direta dos produtores envolvidos. Das 34 famílias sócias, o controle é concentrado em dez, com 65% das ações da Evermat.
Verticalização da produção
“Produzimos soja, milho, algodão, pecuária. Alguns têm irrigação. Decidimos fazer algo diferente e verticalizar a produção. Fizemos um estudo de viabilidade de alguns mercados sobre o que produzíamos, e a melhor oportunidade foi a biorrefinaria de milho”, contou à reportagem Tiago Stefanello, que além de sócio e presidente da Evermat, produz grãos em Sorriso (MT).
Do R$ 1 bilhão orçado para o projeto, R$ 700 milhões já foram liquidados. A companhia já construiu um armazém, que está começando a receber os grãos para a operação futura da usina. A estrutura tem capacidade estática para 180 mil toneladas de milho, pouco menos da metade da demanda da planta para um ano inteiro.
A usina em si está começando a ser construída, mas os equipamentos estão praticamente todos comprados. O projeto prevê uma capacidade de produção anual de 207,5 milhões de litros de etanol anidro, ou de 215 milhões de litros de etanol hidratado, além de 134 mil toneladas de DDGS (grãos secos de destilaria com solúveis), 7,9 mil toneladas de óleo de milho. A previsão é que a planta comece a operar em meados de 2026.
Energia de cavaco
A unidade contará ainda com uma planta de cogeração de energia com potência de 13 megawatts (MW) gerados a partir da queima de cavaco de eucalipto, que será fornecido por empresas da região que se especializaram nesse ramo nos últimos anos, incluindo alguns dos associados da Evermat.
Segundo Stefanello, a construção de usinas de etanol de milho na região em anos anteriores, como pela Inpasa e pela FS, fomentou o setor de cavaco de madeira na região, estabelecendo uma oferta mais firme. “Hoje a oferta normalizou e está muito regulada. Está diferente dos problemas que as outras empresas tiveram no começo”, conta o produtor.
Sócios
Boa parte do investimento está sendo bancado pelos recursos dos próprios produtores rurais associados. Entre 70% e 75% dos recursos da companhia virão de equity dos sócios, enquanto o restante já foi contratado junto a bancos.
Ainda que boa parte dos fornecedores da nova usina sejam os próprios produtores associados, Stefanello garante que os preços pagos serão os preços de mercado. “Como é uma SA, tenho que dar retorno para a empresa, não para o agricultor. O sócio vai ter retorno via empresa”, diz.
O mercado de DDGS
Os estudos de viabilidade da planta indicaram potencial não apenas por causa do mercado de etanol, mas também pelo de DDG, coproduto do processamento do milho rico em proteínas, usado em ração.
“Para o DDG vemos uma luz boa com a exportação para a China. Essa abertura de mercado pelo governo federal foi um grande acerto para o Brasil, porque viabilizou a produção de DDG”, afirma. Em maio, os governos brasileiro e chinês assinaram a abertura do mercado da China para o DDG e o DDGS do Brasil.
Segundo Stefanello, o mercado externo deverá ser o principal destino das vendas de DDG da Evermat no médio prazo, mas até lá parte do consumo deverá se dar no mercado interno, principalmente entre confinamentos dos próprios sócios da companhia e de outros produtores do norte de Mato Grosso, do Pará e do sul do Amazonas (Globo Rural, 8/7/25)