Os EUA não terão outros fornecedores, e o Brasil não terá outros importadores.
A tarifa de 50% trará dificuldades tanto para os Estados Unidos como para o Brasil. Os dois países são bastante competitivos em vários setores no mercado mundial, como o de carne, principalmente da proteína de frango, e de soja.
Em alguns itens, porém, o Brasil é dependente do mercado americano para desovar sua produção, mas os Estados Unidos são dependentes do produto brasileiro devido à sua demanda e à ausência de produção interna.
O principal no setor do agronegócio é o café. Os americanos importam 25,5 milhões de sacas do produto por ano, incluindo o café verde e o processado. Deste volume, 8 milhões a 9 milhões de sacas saem do Brasil.
Do lado americano, os consumidores vão ter de pagar mais pela bebida, uma vez que não vão encontrar no mercado internacional um país com um volume tão grande na oferta de produto. A saída é um aumento de preço e alta da inflação.
Do lado brasileiro, o cenário também não é favorável. O consumo mundial de café cresce ano a ano, mas com taxa modesta. O Brasil não conseguirá novos mercados para uma eventual queda na entrada de café nos Estados Unidos. Mesmo o mercado interno já está consolidado, e um aumento de consumo seria limitado.
O mesmo ocorre com o suco. Os Estados Unidos vêm perdendo ano a ano a área com citricultura e diminuindo a produção de suco. No ano passado, foram obrigados a importar 306 mil toneladas de suco do Brasil, com gastos de US$ 1,3 bilhão. O cenário para o suco é o mesmo do café.
Em ambos os produtos, os brasileiros são os maiores produtores mundiais. Apenas o Brasil tem volume suficiente para suprir a demanda interna de suco dos Estados Unidos. Uma confirmação da efetivação da taxa elevaria os preços do produto.
Em uma eventual redução das compras americanas, os brasileiros não conseguiriam, principalmente a curto prazo, novos mercados para o suco brasileiro. O aumento do consumo em países que começam a descobrir o suco não compensaria uma eventual redução das compras americanas.
A China, o primeiro mercado a ser olhado, devido ao seu tamanho, reduziu as compras do produto brasileiro para 30 mil toneladas na safra 2024/25, após ter comprado 82 mil na anterior. Na União Europeia, a importação do produto brasileiro recuou para 376 mil toneladas, após ter atingido 496 mil em 2023/24.
As exportações brasileiras de carne bovina para os Estados Unidos dobraram no primeiro semestre deste ano, atingindo 181,5 mil toneladas. Com oferta insuficiente, o mercado americano vai ter de pagar mais ou importar menos. O Brasil vem ganhando novos mercados para a proteína, mas não será fácil recolocar o volume que os Estados Unidos eventualmente deixarem de importar.
É um jogo de perda dupla, mas claro que o melhor cenário é um acerto entre os dois países (Folha, 16/7/25)