Firjan afirma que desempenho piorou em uma década, com perda de seis posições.
O Brasil ocupou o 46º lugar de um ranking que analisa dados de competitividade em 66 economias em 2023. Isso significa que, além de estar distante do topo, o país perdeu seis posições em relação a dez anos antes –figurava na 40ª colocação em 2013.
As conclusões são de um novo índice elaborado pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), o IFCG (Índice Firjan de Competitividade Global), lançado nesta quarta (11).
O indicador é dividido em quatro pilares: ambiente de negócios, capital humano, eficiência do Estado e infraestrutura.
A escala do IFCG varia de um a cem. Quanto mais próximo de cem, melhor é o resultado de uma nação.
O índice brasileiro, diz a Firjan, encolheu de 44,4 em 2013 para 39,9 em 2023. A baixa foi de cerca de 10%.
Singapura (87,7) liderou o ranking do ano passado. Suíça (86) e Dinamarca (84,2) vieram na sequência. Já o Paquistão amargou o último lugar (14,5).
O Brasil ficou atrás de latinos como Uruguai (54,9) e Chile (53,5), que ocuparam a 33ª e a 34ª posições, respectivamente, em 2023. Também apareceu depois da China (13ª), da Índia (42ª) e da África do Sul (45ª), outras nações integrantes dos Brics.
O país, por outro lado, está à frente da vizinha Argentina (48ª) e da Rússia (60ª).
“O Brasil tem procurado evoluir em diversas questões, mas o indicador deixa claro que ainda falta muito para se aproximar dos países com os maiores níveis de competitividade”, afirma Jonathas Goulart, gerente de estudos econômicos da Firjan.
Além dos resultados gerais, o IFCG traz rankings específicos para cada 1 dos 4 pilares que compõem o levantamento.
Na passagem de 2013 para 2023, o Brasil só conseguiu aumentar o índice de capital humano –de 51 para 52,4. Ainda assim, o país caiu do 28º para o 33º lugar do ranking específico dessa área, já que outras economias avançaram mais no período.
Segundo a Firjan, o desempenho nacional em capital humano está associado a baixos investimentos em educação, pesquisa e desenvolvimento.
Enquanto Israel, Coreia do Sul, Suíça, Suécia e Áustria gastam em média US$ 22 mil por aluno ao ano, o Brasil destina US$ 3,7 mil, afirma a entidade.
A variável mede o total do investimento público por estudante na educação. Inclui fatores como pagamento de salários de professores, construção, reforma e manutenção de prédios escolares e compra de livros didáticos.
Em pesquisa e desenvolvimento, acrescenta a Firjan, a Coreia do Sul investe o equivalente a 4,6% do PIB (Produto Interno Bruto) ao ano, e o Brasil, somente 1,2%. A variável mede os gastos públicos e privados no setor.
“Um dos graves problemas estruturais do Brasil é que as pessoas acabam não tendo acesso a uma educação de qualidade”, afirma o presidente da Firjan, Luiz Césio Caetano.
“Isso vira uma barreira para que consigam melhores postos de trabalho e um gargalo para as empresas, que não conseguem mão de obra preparada para os novos tempos, à altura dos enormes desafios que as transformações tecnológicas impõem”, acrescenta.
O pilar de eficiência do Estado é composto por variáveis de “controle da corrupção”, na qual o Brasil está entre os 17 piores, “eficácia do governo”, na qual está entre os oito piores, e “Estado de Direito”, que aponta que a segurança jurídica e institucional brasileira é 31% menor do que a média de Dinamarca, Singapura, Suíça, Finlândia e Noruega.
No pilar de ambiente de negócios, o Brasil está na 51ª posição. O índice específico dessa área recuou de 51,8 em 2013 para 44,3 em 2023. A Firjan afirma que o país se destaca negativamente pela “baixa estabilidade política e qualidade regulatória”.
Por fim, no ranking do pilar de infraestrutura, o Brasil ficou na 47ª posição. O índice dessa variável recuou de 42,5 em 2013 para 40,8 em 2023.
Em infraestrutura, a Firjan destaca, por exemplo, a taxa de investimento, calculada em 18% ao ano no Brasil. É um nível bem inferior aos da China (43%) e da Índia (33%), aponta a entidade.
Na visão de Goulart, a melhoria dos resultados brasileiros passa por avanços em políticas de Estado nas diferentes áreas, mas a base deve ser a educação. “Nosso gasto com educação é insuficiente e, sobretudo, ineficiente”, diz.
De acordo com ele, os países mais competitivos chamam atenção em quesitos como acesso a ensino de qualidade, investimento em ciência, infraestrutura logística e estabilidade política.
O IFCG, aponta Goulart, busca um olhar para números além do PIB, que mede o tamanho das economias. “O PIB é importante, mas, quando a gente fala de competitividade, tem outras variáveis com relevância também.”
A Firjan afirma que os dados usados no índice têm como base o Banco Mundial e a Unesco (Folha, 11/12/24)