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Incêndio destrói 80% de área usada para pesquisas do IAC com cana

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Por Marcelo Toledo

Um dos incêndios que atingiram a região de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo) nos últimos dias afetou pesquisas desenvolvidas no Centro de Cana do IAC (Instituto Agronômico de Campinas).

Referência no setor sucroenergético em estudos sobre variedades de cana-de-açúcar, o órgão viu serem destruídos pelo fogo cerca de 80% da área de 150 hectares de cultivo na cidade (o equivalente a 210 campos de futebol).

Abrigado na fazenda que sedia anualmente a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), a maior do setor na América Latina, o Centro de Cana foi responsável pelo desenvolvimento de variedades mais propícias à geração de energia, mais firmes e resistentes a pragas das lavouras, para citar três exemplos.

A área atingida no último sábado (24) abrigava plantas em todas as etapas, das mais novas às mais antigas, algumas das quais inseridas em estudos desenvolvidos há mais de dez anos. Em entrevista coletiva, o diretor do órgão, Marcos Landell, afirmou que, além de atrasar as pesquisas, o fogo atrasará também a chegada aos produtores rurais de variedades de cana que seriam lançadas em breve.

O setor sucroenergético foi atingido por mais de 2.100 incêndios entre sexta-feira (23) e sábado, como a Folha mostrou, que resultam em prejuízo aos produtores de R$ 350 milhões, segundo a Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil).

A segunda-feira (26) em Ribeirão Preto, um dos municípios mais atingidos pelos reflexos dos incêndios no estado, foi marcada pela suspensão das aulas na rede municipal —que passaram por limpeza devido à fuligem das queimadas e pela procura de pacientes por atendimentos em unidades de saúde.

Os problemas respiratórios geraram uma corrida às unidades de saúde de Ribeirão nesta segunda-feira. As salas de medicação e inalação e nebulização das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) ficaram lotadas devido à ação da fumaça e fuligem dos incêndios em matas e canaviais.

 A Prefeitura de Ribeirão informou que não há mais focos de incêndios ativos na no município. A cidade registrou 21,8 milímetros de chuva entre domingo e segunda, o que contribuiu para o não surgimento de mais queimadas.

Apesar disso, a previsão de seca para os próximos dias preocupa. Das 48 localidades inseridas pelo Governo de São Paulo na lista de alerta máximo para incêndios, 21 são da região de Ribeirão. Além dela própria, estão na lista municípios como Sertãozinho, Bebedouro, ibitinga, Morro Agudo, Batatais e Pradópolis.

Nesta última, o fogo destruiu parte de um assentamento, com um acampamento anexo, entre Guatapará e Pradópolis. Ao menos 200 animais morreram e plantações foram atingidas pelo incêndio.

Oito moradias foram para o chão e ao menos 80 famílias sofreram danos financeiros, fora os efeitos da fumaça intensa, que atingiu toda a área e provocou problemas respiratórios em parte das 360 famílias que habitam o local.

Helicópteros do Exército fizeram sobrevoos em toda a região como forma de monitorar possíveis focos de incêndio (Folha, 28/8/24)



Fumaça de incêndios cobriu áreas rurais de SP em 90 minutos

Análise de instituto de pesquisa aponta queimadas simultâneas, mas não comprova novo ‘dia do fogo’.

Os incêndios em série que atingiram o interior paulista surgiram de forma quase simultânea e em áreas predominantemente agropecuárias, de acordo com levantamento do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) com base em dados de focos de calor mapeados por satélite.

Dos 2.600 focos de calor registrados em São Paulo no intervalo dos dias 22 a 24 deste mês, 81% ocorreram em áreas de uso agropecuário, como as ocupadas pela cana-de-açúcar e pastagem, aponta o cruzamento das imagens da rede satélites para monitoramento ambiental com informações da cobertura e uso da terra da rede MapBiomas. Cerca de 72% do território paulista é ocupado por atividades rurais.

As imagens do satélite que captura uma nova cena a cada dez minutos mostram o aparecimento das colunas de fumaça no intervalo de 90 minutos, entre 10h30 e 12h do dia 23. Já o satélite que capta focos de calor passa sobre a região na parte da manhã e no final da tarde. Entre suas duas passagens, naquele mesmo dia, o número de focos foi de 25 para 1.886 no estado.

Ao confirmar a simultaneidade do focos, o estudo fortalece comparações entre o episódio no interior paulista com o chamado “dia do fogo”, citado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Ela afirmou que o governo do presidente Lula (PT) investiga se as queimadas no estado têm motivação semelhantes aos incêndios florestais provocados por criminosos em agosto de 2019 nos municípios de Altamira e Novo Progresso, no Pará.

Na ocasião, o jornal Folha do Progresso, de Novo Progresso, publicou que produtores rurais que apoiavam o então presidente Jair Bolsonaro coordenaram a queima de pasto e áreas em processo de desmate.

Na crise atual em São Paulo, a polícia paulista efetivamente identificou pessoas responsáveis por atear fogo, mas o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou nesta segunda (26) que nada leva a crer que essas ações criminosas foram articuladas.

Na nota divulgada pelo Ipam sobre a o estudo das queimadas, a diretora do instituto, Ane Alencar, citou a ocorrência no território paulista como “um dia do fogo exclusivo para realidade de São Paulo”. Em entrevista à Folha, porém, ela disse que os dados não permitem afirmar que há ações orquestradas de incendiários no estado.

“Eu não sei dizer se as motivações foram as mesmas [do dia do fogo] nem se os incêndios foram orquestrados”, disse. “O que é estranho é o surgimento de tantos focos de calor em um período tão curto.”

De acordo com a análise do Ipam, do total de focos de calor em áreas produtivas no estado de São Paulo no período, 44,45% (1.200 ) ocorreram em áreas de cultivo de cana-de-açúcar. Outros 524 focos (19,99%) surgiram em mosaico de usos, que são áreas agropecuárias nas quais não é possível a distinção entre pasto e agricultura. Ainda ocorreram 247 focos (9,42%) em pastagens e 195 (7,43%) em áreas de silvicultura, soja, cítrus, café e outras lavouras.

Já a vegetação nativa queimada soma 440 focos de calor, ou 16,77% de todos os focos registrados nos três dias. As formações florestais foram as mais afetadas, concentrando 13,57% dos focos de calor no estado.

 “Os dados mostram que o principal alvo do fogo foram as áreas já desmatadas, ou seja, as que já tinham algum tipo de uso. Portanto, podemos concluir que, se o fogo atingiu uma área de vegetação nativa, isso ocorreu porque ele escapou do local onde teve início”, diz, por meio de nota, Wallace Silva, analista de pesquisa do Ipam.

Cinco cidades têm 13,31% dos focos de calor ocorridos nos três dias no estado de São Paulo: Pitangueiras (3,36%); Altinópolis (3,28%); Sertãozinho (2,4%); Olímpia (2,17%); e Cajuru (2,1%), todas na região de Ribeirão Preto, com exceção de Olímpia, que fica no polo de São José do Rio Preto.

O Ipam ainda afirma em seu comunicado que, “seja uma ação orquestrada ou não, é urgente reduzir o uso do fogo no manejo agropecuário”.

Embora queimadas tenham sido historicamente empregadas para a colheita da cana-de-açúcar, o cenário do estado de São Paulo mudou significativamente nos últimos anos. Atualmente, 99% da colheita é realizada sem queima, segundo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Nesta terça-feira (27), após dois dias sem fogo, três focos de incêndios foram registrados em Batatais, na região metropolitana de Ribeirão Preto, o que obrigou uma força-tarefa a atuar para o combate às chamas.

Por volta das 15h, os bombeiros foram acionados para uma ocorrência no quilômetro 50, dentro da floresta estadual que circunda a cidade, para outra no quilômetro 42 da mesma rodovia e nas proximidades de uma fazenda Santana.

Enquanto o Corpo de Bombeiros atuou no incêndio próximo à fazenda, as brigadas da prefeitura, com caminhão-pipa, e da Usina Batatais atuaram para combater o fogo na floresta. A Usina da Pedra, por sua vez, trabalhou no incêndio registrado no quilômetro 42 da Altino Arantes (que liga a cidade a Altinópolis).

Houve outros focos, mas esses eram os mais graves. Todos os focos estão contidos no momento.

Estado identifica seis suspeitos, mas não confirma relação entre casos

Questionada na tarde desta terça (27) sobre a possibilidade de ações coordenadas de incendiários, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) da gestão Tarcísio de Freitas apenas atualizou o seu balanço, apontando detenções de seis suspeitos.

Em seu relato, a SSP informou que um homem de 44 foi detido em Rio Preto nesta segunda (26) por causar incêndio em vegetação na última sexta-feira (23). Uma câmera de segurança flagrou a ação. Ele foi ouvido e indiciado.

Na mesma data, em Jales, a polícia iniciou um homem de 49 anos responsável por um incêndio no sábado (24). A ação também foi captada por uma câmera de segurança.

Além desses dois autores, outros quatro suspeitos foram detidos desde a semana passada.

No dia 21, em Guaraci, um homem de 26 anos foi preso em flagrante por atear fogo em vários pontos de um canavial. No sábado (24), um idoso de 76 anos foi detido por atear fogo em lixo, em São José do Rio Preto. Outro homem, de 42 anos, foi preso em flagrante no domingo (25), por atear fogo em vegetação na cidade de Batatais.

Nesta segunda (26), em Batatais, um homem de 27 anos foi preso em flagrante após atear fogo em uma área de pastagem e causar um incêndio que se estendeu até o quintal de uma residência.

A Polícia Militar Ambiental ainda aplicou mais de R$ 15 mil em multas a dois homens, em Porto Ferreira, por acenderem fogueiras para limpeza da vegetação (Folha, 28/8/24)

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