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Açúcar – João bobo

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Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana com o vencimento outubro/22 cotado a 18.65 centavos de dólar por libra-peso, uma recuperação de 71 pontos em relação à semana anterior, equivalente a 15.65 dólares por tonelada. Como a moeda americana se desvalorizou 1.81% frente ao real no acumulado da semana, fechando a R$ 5.0700, a alta de preços em NY acabou sendo parcialmente neutralizada e os valores do açúcar apreciaram pouco mais de 30 reais por tonelada, equivalentes a 30 pontos vis-à-vis os 71 pontos de valorização, acima mencionado.

Os preços em NY convertidos em reais despencaram da segunda quinzena de julho para cá, do pico de 18 de julho quando o mercado encerrou a equivalentes R$ 2,400 por tonelada para os atuais R$ 2,150. Como esses preços referem-se ao primeiro vencimento de NY (outubro/22), existe pouco açúcar ainda disponível para a venda e fixação contra esse vencimento, mas é natural que a queda faça com que os gestores dentro das usinas cocem a cabeça imaginando que perderam uma oportunidade de fixação.

A queda de preços do açúcar em NY refletiu uma série de eventos que foram deletérios para o mercado, o principal deles – na nossa visão – foi o imbróglio causado pela mudança na tributação dos combustíveis. Um tiro no pé dado pelo presidente da república, com fins totalmente eleitoreiros, que contou com o beneplácito de um congresso que trabalha olhando o próprio umbigo. A medida colocou em risco a própria sobrevivência do etanol, que perdeu a competitividade em relação à gasolina e para recuperá-la as usinas terão que abrir mão da margem ou esperar por dias melhores que nem sabemos se virão.

Tivesse deixado o mercado se ajustar, o governo não precisaria mexer nos impostos (que prejudicaram os estados com a diminuição da arrecadação), não encomendaria um rombo fiscal que será sentido – segundo alguns economistas sérios – a partir do segundo trimestre de 2023, independentemente de quem subirá a rampa do Planalto em 1º de janeiro de 2023; e tudo se ajustaria pela mão do mercado. No entanto, demos uma demonstração inequívoca de que não existe organização de ideias, planejamento, estratégia, nem o básico entendimento de como o mercado funciona por parte do Executivo, que por sua vez tem a assessoria de um ministro nefelibata que acha que está tudo muito bom, tudo muito bem.

Segundo um deputado federal por SP que estava no Congresso da ABAG na semana passada é muito provável que o governo federal prorrogue a isenção de impostos federais (PIS/Cofins) até o final de janeiro de 2023. Como dá para perceber, planejar no Brasil é muito fácil. E em setores que sofrem ingerência do governo, ainda melhor.

O que parece mesmo ser uma constante é que entra governo, sai governo, inobstante a matiz ideológica que cada um carrega, o setor sucroalcooleiro invariavelmente exerce o papel de joão-bobo, aquele brinquedo de criança, que possui uma base arredondada, que por mais que seja empurrado, esmurrado, usado como alvo, sempre retorna à posição vertical.

A volatilidade do mercado de açúcar continua em alta. Observando os últimos 20 dias de negociação na bolsa, constatamos que a volatilidade anualizada ultrapassou 28%, bem acima da média de 100 dias de 22%. Isso ocorre quando os mercados oscilam mais em relação à média de preços provocado pela insegurança, incerteza ou quando as próprias certezas são frágeis demais para confiar. Temos uma pletora de situações e fatores exógenos e endógenos que corroboram com isso.

Dada a quantidade de variáveis com as quais precisamos lidar para a tomada de decisão, nada garante que mudanças bruscas no quadro fundamentalista possam virar o mercado de cabeça para baixo. E os fundos são parte desse cenário: continuam vendidos cerca de 66,000 lotes e parecem confortáveis com essa posição. E aí que mora o perigo. Como já dissemos anteriormente, ficar vendido quase nas mínimas recentes requer coragem, nervos de aço e bolso fundo. Por outro lado, a total ausência de fatos novos nos fundamentos parece endossar a posição deles. Vamos ver.

O quadro macro dá uma trégua. Os mercados de commodities e de ações foram mais calmos esta semana. Todas as commodities fecharam em território positivo. No domingo, números da economia chinesa serão publicados e a próxima segunda-feira poderá ser cor-de-rosa. Ou não….

Petróleo WTI e Brent já negociam a preços bem próximos daqueles vistos antes do início da invasão russa na Ucrânia. Isso equivale a dizer que todo o barulho provocado pelo temor de desabastecimento esvaiu-se e a oferta de petróleo tem sido maior do que a demanda, que tem refletido a retração da economia. E aquela história de uma grande instituição financeira “alertando” para o perigo do petróleo alcançar 380 dólares por barril? Pois é, quem comprou acreditando permitiu que alguém vendesse lucrando. Quando um espertalhão encontra com um parvo, normalmente sai negócio.

Duas frases pinçadas do delicioso livro Maldade, do Gustavo Franco, muito pertinente para nossos dias atuais. “Há sociedades que reverenciam seus ladrões até o limite da idolatria” (Francisco Rosell, jornalista espanhol) e “O único país do mundo onde o comunismo é levado a sério é o Brasil” (Paulo Francis, jornalista) (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting, 13/8/22)

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