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Lula começou mal na economia

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Por Alexander Busch

“Por que as pessoas são levadas a sofrer por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal desse país?”, perguntou Lula

Em seu primeiro discurso sobre política econômica, presidente eleito ressuscitou fantasmas do governo Dilma. Desconsiderar a realidade econômica é preocupante, mesmo que seja com a intenção de aliviar a fome e a miséria.

Podem interpretar como quiserem, mas em seu primeiro discurso após a reeleição sobre sua futura política econômica, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva enviou os sinais equivocados. E isso poderá custar caro ao Brasil.

“Por que as pessoas são levadas a sofrer por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal desse país?”, perguntou Lula, em discurso no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) na última quinta-feira (10/11).

Ainda durante o discurso, o real sofreu uma queda acentuada frente ao dólar, a bolsa despencou e o os juros sobre títulos brasileiros aumentaram. Mais tarde, Lula zombou do mercado financeiro: “Nunca vi um mercado tão sensível quanto o nosso.”

As fortes reações negativas às poucas frases ditas por Lula demonstram que os investidores temem que ele esteja de fato tentado a promover políticas de gastos irresponsáveis.

O problema é que Lula indica que quer aumentar os gastos – e deseja receber luz verde do Congresso para fazê-lo – sem explicar de onde virão os fundos para tal. Ele também não explica de que forma pretende controlar o alto déficit orçamentário no futuro. Essa é uma combinação traiçoeira, que teria consequências fatais.

Inflação em alta

Se o governo elevasse o gasto público em 1,5% a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) sem, ao mesmo tempo, declarar que financiaria os gastos adicionais através do aumento de impostos ou de mais dívidas, então é provável que o Banco Central tivesse que manter a taxa de juros no patamar recorde de 13,75% por um período mais prolongado, ao invés de baixá-la.

Isso porque os gastos adicionais iriam impulsionar a inflação, e o Banco Central não teria outra escolha a não ser aumentar a taxa de juros, uma vez que sua função é manter a estabilidade da moeda.

Dessa forma, o crescimento do Brasil seria novamente asfixiado, e, apesar disso, a inflação supostamente aumentaria.

Em outubro, a inflação voltou a subir depois de três meses deflacionários. Deduzidas as medidas populistas do governo Bolsonaro para manter a inflação em baixa durante a campanha eleitoral, a pressão inflacionária ainda fica em torno de 10%.

Não repetir os erros de Dilma

Já no governo de Dilma Rousseff o Partido dos Trabalhadores (PT) demonstrou intenção de moldar a economia em seus próprios termos, o que acabou de maneira desastrosa. 

Quando Dilma baixou a taxa de juros a partir de fevereiro de 2012 – em contraste com as economias de todo o mundo –, seu governo atingiu exatamente o oposto do que queria: a inflação aumentou, a economia se estagnou, e os investimentos cessaram.

Henrique Meirelles, chefe do Banco Central durante o governo Lula, que apoiou publicamente o ex-presidente nas eleições de 2022, já teme que ele esteja mais propenso a seguir os passos do governo Dilma em termos de política econômica do que repetir sua própria política fiscal conservadora adotada a partir de 2003.

É preocupante que Lula queira desconsiderar a realidade econômica, mesmo que sua preocupação em aliviar a fome e a miséria das camadas mais pobres seja compreensível. Mas com o aumento da inflação e uma economia estagnada, ele não ajudará os pobres do Brasil.

Fica a esperança de que Lula tenha feito seu discurso ainda no modo de campanha, e que as reações duras do mercado financeiro possam persuadi-lo a adotar um rumo mais pragmático. Do contrário, o Brasil está diante de tempos turbulentos (Há 30 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do jornal econômico Handelsblatt e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil; DW, 16/11/22)

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