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Mentalidade tech e as eleições

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Por Celso Ming

As mudanças culturais promovidas pela tecnologia no agronegócio e pela forma como as pessoas encaram o trabalho e as novas ocupações estão influenciando na hora de decidir o voto.

Alguns analistas vêm explicando o resultado das eleições como avanço do conservadorismo no Brasil. As coisas parecem mais complexas. Um elemento novo pode ajudar a entender o Brasil desde que examinado sob outra ótica.

Nesta quinta-feira, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou sua primeira previsão de safra da temporada 2022/23: crescimento anual de 15,3% para uma produção recorde de grãos de 312,4 milhões de toneladas.

Para além de um dado que integrará a renda do setor, a expansão do agro – e não apenas a da próxima safra – vem contribuindo para uma importante mudança de mentalidade no interior do País.

Todas as grandes culturas agropecuárias não ficam apenas no trato da terra e dos rebanhos. Elas criam determinadas mentalidades, ainda que a partir das classes dominantes. Assim foi com a cultura da borracha no fim do século 19 e início do seguinte; foi com a cultura da cana-de-açúcar do Nordeste, que espalhou padrões próprios de comportamento; com a cultura do cacau na Bahia, como mostram as obras de Jorge Amado; e com a cafeicultura no Sudeste.

O sucesso e a expansão do agronegócio vêm criando nova mentalidade especialmente no interior do Brasil, fenômeno que ainda precisa de melhor entendimento. Vêm contribuindo para a criação de um importante jeito “tech de ser”, porque dissemina o uso das tecnologias digitais, o emprego de sementes de melhor qualidade genética, técnicas modernas de manejo do solo e por aí vai. E isso também transforma as chamadas superestruturas. A maneira de pensar de um produtor de cana e de milho dos nossos dias e do seu entorno é bem diferente da que prevalecia há 20 anos. E está em franca mudança, não apenas no mais moderno Centro-Sul, mas, também, no Noroeste e nas áreas de Cerrado.

Os acadêmicos, ainda amarrados a arcabouços ideológicos do passado, têm dificuldade de lidar com essas transformações. Os analistas de formação sindicalista, por exemplo, não conseguem enquadrar as novas modalidades de contratos de trabalho que vão surgindo, desde as ocupações da gig economy (bicos e outras ocupações informais) como a nova mentalidade disseminada pelas igrejas evangélicas, de busca do pequeno e médio empreendedorismo, para além dos vínculos empregatícios, dos regimes rígidos de trabalho e das associações sindicais.

Até que ponto essa mentalidade derivada do agro e das novas ocupações passou a influenciar o voto do eleitor é questão que precisa de análise, porque é caminho para a compreensão do novo Brasil (O Estado de S.Paulo, 7/10/22)

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