Objetivo é comprar fertilizantes russos, segundo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, pediu ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, uma licença especial para que o Brasil compre fertilizantes de países que estão sob sanções em decorrência da guerra na Ucrânia, inclusive da Rússia.
A declaração foi dada em audiência pública da Comissão de Relações Exteriores no Senado nesta quarta-feira (6).
Em diversas ocasiões nas últimas semanas, o Ministério da Agricultura destacou que o Brasil tem estoque suficiente de fertilizantes para chegar à próxima safra, que começa a ser plantada em outubro. É a partir daí que a limitação à importação preocupa.
Quarto maior mercado consumidor de fertilizantes, o Brasil importa cerca de 85% do que usa —a Rússia é origem de 23% desse estoque. Com grande percentual de fertilizantes importados vindo justamente do Leste Europeu, o conflito na Ucrânia colocou o agronegócio em alerta devido ao risco de falta do produto.
França esclareceu que o diálogo com os Estados Unidos ocorreu para que as empresas brasileiras consigam negociar com países que estejam sob sanção e tenham a garantia de que não irão sofrer penalidades caso isso ocorra. Ele citou como exemplo o Irã e a Rússia.
“Pedi uma garantia de que a empresa possa fazer negócio com a empresa iraniana e não vai ser sancionada depois. O negócio com o Irã normalmente é mínimo em relação a essas empresas. Elas querem todas é poder fazer negócio com a Europa e com os Estados Unidos”, declarou.
Ele disse que o governo americano prometeu achar uma solução. Acrescentou ainda que não desistiu de negociar com a Rússia.
“E nós não desistimos também da Rússia. A Rússia é um produtor que temos contrato e o que estamos tentando fazer agora é vencer as dificuldades logísticas e garantir também ao importador brasileiro de que nós não teremos problema, eles não terão problema em negociar com a Rússia apesar das sanções”, disse França.
O embaixador da Rússia no Brasil, Alexei Kazimirovitch Labetski, já havia dito um dia antes que Moscou trabalha para manter a exportação de fertilizantes ao Brasil, em meio a restrições ao comércio ligadas à imposição de sanções contra o país devido à guerra na Ucrânia.
“Confirmamos a nossa vontade de continuar fornecendo os fertilizantes de todos os grupos para a República Federativa do Brasil”, afirmou.
“Na situação atual, em que foram empreendidas as sanções ilegítimas contra nosso país, estamos abertos para trabalhar e criar os novos procedimentos necessários para a logística, que é muito importante, e para o pagamento dos produtos, dos fertilizantes e dos produtos agrícolas brasileiros fornecidos para a Rússia.”
França disse que o Brasil também conversa com outros países, como o Canadá, Arábia Saudita e Nigéria. Ele acrescentou que o trabalho para que país consiga resolver a situação do fertilizante tem sido feito com a ajuda de diversos ministérios do governo federal (Folha de S.Paulo, 7/4/22)