Por Juliana Américo
Petrobras pode entrar na Raízen e voltar ao mercado de etanol. Montagem: Money Times
A Petrobras estuda investir na Raízen joint venture formada pela Cosan e Shell, como parte de sua estratégia de retorno ao setor de etanol, segundo o jornal O Globo. Entre as alternativas em análise estão a aquisição de participação na empresa ou a compra de ativos específicos, com uma decisão prevista até o fim de 2025.
A Raízen é uma das maiores produtoras brasileiras de etanol de cana-de-açúcar e se destaca por ser a única do mundo a produzir etanol de segunda geração em escala comercial, utilizando 29 usinas. Além disso, atua na distribuição de combustíveis sob a licença da marca Shell no Brasil, Argentina e Paraguai, com mais de 8 mil postos revendedores.
No primeiro trimestre da safra 2025/26, a companhia registrou prejuízo líquido de R$ 1,8 bilhão, após registrar lucro de R$ 1,1 bilhão no mesmo período da safra anterior (2024/25), com impacto de deterioração no desempenho operacional do período.
Fontes consultadas pelo jornal destacam que a Petrobras busca, inicialmente, ter presença relevante no mercado de etanol. Internamente, a estatal debate como entrar na Raízen sem infringir a cláusula de não competição com a Vibra (antiga BR Distribuidora) até 2029 no setor de distribuição. Entre as opções estudadas estão a segregação de ativos ou acordos específicos de gestão.
Especialistas ouvidos pelo O Globo veem a entrada da Petrobras como um possível primeiro passo para seu retorno à distribuição de combustíveis, um movimento que a própria presidente da estatal, Magda Chambriard, sinalizou recentemente.
Para a Cosan, a busca por novos sócios visa fortalecer o portfólio e reduzir endividamento. No segundo trimestre, a empresa registrou prejuízo de R$ 946 milhões e dívida de R$ 17,5 bilhões, ante perda de R$ 227 milhões no mesmo período do ano anterior.
A Cosan, a Raízen e a Petrobras não comentaram publicamente as negociações (Money Times, 16/8/25)
‘Sócio estratégico para Raízen é opção que gostamos”, diz CEO da Cosan

Empresa do grupo teve prejuízo de R$ 1,844 no trimestre e reverteu o lucro do período anterior; receitas caiu 6,1%.
O CEO da Cosan, Marcelo Martins, disse que a companhia gosta da opção de trazer um sócio estratégico para a Raízen e que tem conversado com a sócia Shell sobre essa opção. “Não faz sentido colocar capital na Raízen hoje. Foco é buscar solução para estrutura de capital da empresa.” Ele disse que a Cosan está empenhada em trazer esse terceiro sócio estratégico para o negócio.
Falando do processo de busca por desalavancagem da companhia, o CFO da Cosan, Rodrigo Araujo, disse que a empresa tem ativos para os quais considera a solução de venda parcial. “Temos conversas acontecendo e, até o fim do ano, queremos dar indicação clara ao mercado”, afirmou.
Ele disse, no entanto, que o processo não deve terminar neste ano e que a companhia busca uma dívida próxima de zero na holding. “Não queremos prejudicar a qualidade do nosso portfólio ao fim do processo de desalavancagem”, ponderou.
A Raízen registrou prejuízo líquido de R$ 1,844 bilhão no primeiro trimestre do ano-safra 2025/26 (1º de abril a 30 de junho de 2025), revertendo o lucro de R$ 1,066 bilhão obtido em igual intervalo da safra anterior. A receita líquida recuou 6,1%, passando de R$ 57,759 bilhões para R$ 54,218 bilhões na comparação anual.
O resultado operacional medido pelo Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado somou R$ 1,889 bilhão, queda de 23,4% em relação aos R$ 2,467 bilhões do primeiro trimestre de 2024/25.
Segundo a companhia, a redução no trimestre “reflete o desempenho inferior no segmento de Distribuição de Combustíveis Argentina, pontualmente afetado pela parada para manutenção da refinaria, mais extensa que o previsto, e por efeitos negativos de inventário”.
O prejuízo líquido também foi influenciado pelo “aumento das despesas financeiras em razão do maior saldo de dívida e da taxa média do CDI”, afirmou a empresa.
A alavancagem medida pela relação dívida líquida/Ebitda ajustado dos últimos 12 meses subiu para 4,5 vezes, ante 2,3 vezes um ano antes. A dívida líquida avançou 55,8% na comparação anual, atingindo R$ 49,220 bilhões. Os investimentos caíram 23,4%, para R$ 1,704 bilhão.
De acordo com a Raízen, o aumento do endividamento reflete, principalmente, “a substituição de R$ 8,9 bilhões em linhas de capital de giro (operações de convênios com fornecedores e adiantamento de clientes) por instrumentos de dívida mais eficientes e de prazos mais longos”.
Sucessão
Martins disse que o tema de sucessão nos negócios é importante e discutido na companhia. No entanto, deixou claro que o poder de decisão é do fundador e sócio controlador da empresa, Rubens Ometto e sua família.
A resposta veio após uma pergunta do analista Gabriel Barra, do Citi, que citava o tema da sucessão e questionava sobre a possibilidade de que, na ausência de um sócio estratégico para a Raízen, a Cosan trouxesse um sócio para a empresa mãe.
“Na falta de sócio estratégico na Raízen, não há necessidade de trazer sócio na Cosan”, pontuou o CEO (Estadão. 16/8/25)