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UNICA dividida pode provocar ruptura na cadeia produtiva sucroenergética

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Dividida em relação ao cumprimento das normas que estabeleceram em 1999 com a criação do Consecana – Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo, a UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar, vem travando há alguns meses uma batalha com a ORPLANA – Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil formada por 35 associações e federações de agricultura presente em vários estados do nosso País. As duas partes compõem em 50% cada uma o CONSECANA.

O embate, que infelizmente conta com acusações mútuas, vem desestabilizando a harmonia criada com o início das atividades do CONSECANA em meio a grave crise que vem passando a cadeia produtiva sucroenergética. A última crise foi provocada pelos usineiros que na eleição de 1998 negaram apoio às candidaturas de Fernando Henrique Cardoso para a Presidência da República e de Mário Covas ao Governo do Estado de São Paulo, renderam resultados muito negativos.

Eleitos, FHC implementou a desregulamentação do complexo sucroalcooleiro enquanto Covas estabeleceu regras ambientais duríssimas que por exemplo proibiam a queima da cana-de-açúcar antecedendo ao corte manual, já que à época não havia colheita mecanizada. Os usineiros foram proibidos de acessar aos palácios do Planalto e dos Bandeirantes.

A regra, no entanto, era descumprida graças aos sindicalistas Melquíades Araújo, que presidia a Federação dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação de São Paulo e Antonio Vitor, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação de Sertãozinho e Região.

Ambos também eram dirigentes da Força Sindical e, além de fornecerem falsos crachás em nome das instituições que representavam, facilitavam o acesso de alguns poucos usineiros, dentre eles Maurilio Biagi Filho, para contatos nas esferas governamentais federal e estadual. Vale ressaltar que Maurilio Biagi Filho foi o grande arquiteto na estratégia que salvou a cadeia produtiva sucroenergética a enfrentar e superar esta crise histórica.

Em meados de março de 1999, em Sertãozinho e a partir da Usina Santa Elisa, recentemente desativada pela Raízen, começaram protestos contra o governo reunindo trabalhadores e fornecedores de cana.

O movimento, intitulado “Grito Pelo Emprego e Pela Produção”, excluía os usineiros que eram apontados como inábeis politicamente e responsáveis pela crise. Com protestos em várias regiões produtoras de cana-de-açúcar o movimento acabou forçando FHC e Covas a abertura de canais de negociação. O papel dos trabalhadores e dos fornecedores de cana foi preponderante e decisivo para que o governo cedesse e a safra 1999/2000 finalmente pode ser iniciada.

Como resultado, o nível de moagem de cana-de-açúcar saltou de 300 milhões/ano para 600 milhões e os direitos dos trabalhadores e também dos fornecedores de cana foram respeitados e preservados. Foram construídas 100 novas usinas e todas as outras investiram em modernização e aumento de produção agrícola e industrial.

O embate em curso entre usineiros e os fornecedores de cana-de-açúcar que representam cerca de 20% a 30% da matéria-prima processada, segundo a Comissão Nacional de Cana-de-Açúcar da Confederação Nacional de Agricultura (CNA),

pode diminuir os níveis atuais de produção da cana no Estado de São Paulo onde a produção de cana-de-açúcar na safra 2023/2024 foi de 439 milhões de toneladas.

Usineiros divididos

Os fornecedores de cana representados pela ORPLANA citam alguns itens que consideram fundamentais para que ocorra o consenso com a UNICA, interrompido com “notas públicas oficiais” contendo acusações de ambas as entidades. Segundo Paulo Junqueira, presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto e da Assovale – Associação Rural do Vale do Rio Pardo, dentre as principais reivindicações dos produtores são estas:

“As partes devem aceitar o reajuste identificado pela Fundação Getúlio Vargas de forma linear, não interferir na indicação da diretoria uma da outra, cumprir o estatuto vigente e a ata devidamente assinada, que determina por exemplo a revisão quinquenal, há pacto em relação a aplicação e retroatividade para a safra 24/25, devem deixar de publicar qualquer forma de índice unilateral, só gera mais confusão e não tem validade alguma. Deve ser ressaltado que várias unidades industriais já contemplam seus fornecedores com preços acima do CONSECANA, prêmios, pois, subsídio no CTT, dentre outros benefícios”.

Paulo Junqueira afirma que “eles chegam a pagar até R$ 40,00 de prêmio aos fornecedores. Deve ser elogiado o trabalho do Gustavo Rattes de Castro na presidência da ORPLANA e seu esforço para que haja pacificação na relação das usinas com os fornecedores de cana. Acredito que finalizado novo acordo, Gustavo pode sair como o grande responsável por esta conquista”.

Ele também afirma que “há uma celeuma muito grande em relação aos contratos de arrendamento e parceria, firmados pela indústria e como aplicação dos índices a estes instrumentos. O CONSECANA se presta as relações comerciais entre os fornecedores e a indústria e talvez esse seja o principal entrave.

PAULO  JUNQUEIRA-  Foto Kaique Oliveira AgroTalk

E acrescenta: “Temos a certeza que a ORPLANA busca o acordo, apenas desejando que seja cumprido o estatuto da sociedade CONSECANA, com suas atas assinadas e concordância na aplicação dos números encontrados pela Fundação Getúlio Vargas, estimados extraoficialmente em torno de 4,5%”

Única

Através da sua Assessoria de Imprensa a Única se manifestou sobre as divergências que ocorrem com a Orplana no âmbito do Consecana/SP:

“A UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia) informa que a Assembleia Geral Extraordinária do Consecana-SP, realizada na última segunda-feira (11/08), foi encerrada sem consenso com a ORPLANA.

A entidade reafirma seu compromisso com o diálogo e defende propostas para restaurar a governança e destravar decisões, incluindo:

* Substituição dos representantes da UNICA e da ORPLANA na Diretoria, iniciando um novo ciclo de diálogo e cooperação;

* Modernização do estatuto e do regulamento da instituição, com a contratação de profissionais técnicos e administrativos independentes;

* Aplicação integral do estudo da FGV, seguindo os critérios acordados entre UNICA e ORPLANA.

A UNICA segue aberta a soluções consensuais, sempre com base em critérios técnicos e no espírito de colegialidade, em benefício de toda a cadeia da cana-de-açúcar paulista” (Da Redação, 15/8/25)

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