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Agronegócio está entre os mais afetados pela chantagem de Trump

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Fora da lista de isenção, café e carne ficam para novos capítulos da negociação.

Eduardo Bolsonaro prestou um grande desserviço ao agronegócio. Ao incentivar sanções de Donald Trump contra o Brasil, na busca de livrar o pai das acusações que tem no STF (Supremo Tribunal Federal), jogou um peso grande sobre o setor.

As sanções de Trump vieram em forma de chantagem, e a tarifa de 50% recai praticamente sobre todo o setor. Poucos itens ficaram fora do tarifaço. Entre eles, suco, celulose, madeira, castanha, cordéis de sisal e fertilizantes. Juntos somaram US$ 1,75 bilhão nas exportações do primeiro semestre para o mercado americano, de um total de US$ 6,6 bilhões, quando computados todos os produtos relacionados ao agronegócio.

Ficaram foram do tarifaço cadeias mais ajustadas e organizadas, como a de celulose e de suco de laranja, A pressão desses setores veio de dentro dos Estados Unidos, feita pelas indústrias locais. Sairão bastante penalizados, no entanto, segmentos brasileiros de menor escala, que demoraram muito para conseguir espaço no mercado americano.

São dezenas de produtos perecíveis vindos de pequenos produtores, e que não conseguem outros mercados rapidamente, principalmente porque eles exigiriam a aprovação de entrada com base em novos padrões sanitários. Gengibre, páprica, e açafrão estão nessa lista. Um quarto do que o Brasil exporta de gengibre vai para os Estados Unidos.

A lista de Trump deixou de fora da isenção produtos essenciais aos Estados Unidos, como café e carne bovina. É um trunfo na manga para conseguir mais do Brasil nas negociações que estão por vir.

A grande surpresa da não inclusão foi o café, mas as negociações não podem ainda ser dadas como encerradas. O Brasil fornece 8 milhões de sacas das 23 milhões que os americanos importam anualmente. Para fugir de custos elevados, com a tarifa de 50% no Brasil, as indústrias americanas terão de buscar o café em mercados pulverizados e com pouco produto para fornecer.

Essa diversidade de cafés pode forçar as indústrias a mudar o blend da bebida, já definido para o padrão do consumidor americano. Além de ficar mais cara a bebida, o consumidor terá uma provável alteração no sabor. Os americanos acabam de fazer negociações com o Vietnã, que terá um aumento de produção para 31 milhões de sacas. A produção vietnamita, no entanto, é de café robusta, ao contrário da do Brasil que tem predominância de café arábica.

Os americanos poderão elevar as compras da Colômbia, segundo maior produtor mundial de café arábica. Os colombianos produzem, no entanto, apenas 12,5 milhões de sacas por ano, bem abaixo da produção brasileira de 65 milhões de sacas. A aquisição pode ser feita também na América Central, mas o potencial de produção da região é limitado.

Sendo que Trump sempre busca levar o caos, para depois aproveitar a situação de pânico dos parceiros comercias para negociar, é possível que ainda haja um cenário novo para o café brasileiro com relação à tarifa de 50%. Os Estados Unidos precisam do café brasileiro.

A situação da carne pode ser um pouco mais complicada, mas uma oferta equilibrada da proteína no mercado americano passa pelo Brasil. A pressão veio dos próprios pecuaristas americanos. As poderosas associações do setor não aceitam, até hoje, a abertura do mercado dos Estados Unidos para o Brasil.

A realidade, porém, é que o rebanho americano está em queda e é o menor desde a década de 1960. A produção cai ano a ano, e os americanos deverão entregar a liderança mundial da produção para o Brasil em um ou dois anos. Além disso, o Brasil disputa um segmento específico do mercado dos Estados Unidos, que não compete com a proteína americana.

Apesar do desprezo de Trump pelo governo brasileiro, ele certamente não vai deixar a inflação do país acelerar, principalmente porque foi eleito para derrubar os preços. Os 50%, por ora, são tarifa do medo, que deverá ser renegociada (Folha, 1/8/25)

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