Por José Roberto Mendonça de Barros
A atual situação de guerra comercial deve abrir novas oportunidades para o Brasil.
A criação de valor no setor vem se intensificando por muitos caminhos: pela produção de produtos com certos atributos, pelos quais muitos consumidores pagam prêmios: orgânicos, produtos regionais especiais, mel de muitos tipos, queijos artesanais, óleo de oliva, parte dos quais já ostentando prêmios internacionais.
Pelo crescimento da importância de “pequenos produtos”, como amendoim e peixes criados em cativeiro, de trigo no cerrado e de cacau em novas regiões.
Uma inovação tecnológica (dupla poda) abriu caminho para novas áreas vinícolas. Muitos destes polos se firmam associados ao enoturismo, num crescimento muito forte.
Pela produção de novos energéticos, como etanol com menor pegada de carbono, biogás, bio-óleo, SAF, hidrogênio verde e lignina. Em todos estes casos a sustentabilidade e a rastreabilidade são atributos fundamentais.
O avanço, ainda que lento, no mercado de crédito de carbono deverá abrir uma fonte de financiamento do setor, como são os exemplos de projetos de reflorestamento com nativas.
Pela produção de novos materiais, como elastano e outros fios e tecidos, compósitos plásticos, a partir de celuloses especiais.
Pela ampliação dos casos de economia circular, no qual a cana-de-açúcar é o maior exemplo.
Pela expansão dos serviços a distância, nas áreas de tecnologia, assistência técnica, produção e marketing. Esses itens podem se transformar numa revolução para pequenas propriedades.
É claro que existem muitas dificuldades a serem superadas para a continuação destas tendências. Avanços maiores na rastreabilidade, especialmente na pecuária, maior consolidação do cadastro rural, ampliação da área de cobertura da internet, avanços no combate das atividades ilegais (especialmente na distribuição de combustíveis e na destruição de florestas), no uso mais adequado da água e outros.
Entretanto, estas questões não são mais graves das que já foram enfrentadas no passado com sucesso, e não serão capazes de impedir que nosso país se torne o mais relevante player no mercado oceânico de produtos agrícolas, ultrapassando o papel dos EUA.
Neste sentido temos a convicção que a atual situação de guerra comercial contra mundo todo, detonada por Trump em 2 de abril, acabará por abrir novas oportunidades para o País, completando nossa jornada.
Trataremos disto na terceira e última parte desta avaliação do agronegócio brasileiro (José Roberto Mendonça de Barros é economista e sócio da MB Associados; Estadão, 29/6/25)