Por Roberto Rodrigues
Proposta, que ainda será votada na Câmara, deve ser um ‘case’ a ser exibido na COP-30.
Faz muito tempo, mas me lembro bem das comemorações da Semana da Pátria – com ênfase para o 7 de Setembro – que os colégios faziam nas cidades maiores em meados do século passado. Os estudantes secundários desfilavam uniformizados, acompanhados por fanfarras, e cada colégio treinava seus alunos durante semanas, o passo rigorosamente certo, com as “balizas” abrindo os desfiles e fazendo malabarismos simples.
E, às vezes, havia exibição de ginástica rítmica nos gramados dos estádios de futebol, onde existiam. As famílias aplaudiam, o Hino Nacional era entoado na perfeição por milhares de vozes e o espírito cívico aflorava, magnífico. A Pátria tinha importância.
Pena que não exista mais isso.
Estamos terminando a semana do 7 de setembro com uma certa melancolia no campo.
O PIB brasileiro cresceu 3,3% no segundo trimestre em relação ao do ano passado), surpreendendo os economistas mais otimistas. Mas o da agropecuária caiu 2,9%, devido a problemas conhecidos, como a quebra da produção dos grãos por causa do El Niño ou a queda dos preços das principais commodities em função do crescimento da oferta e dos estoques mundiais. A renda rural despencou.
A soja teve sua participação reduzida em 4,3%, e o milho em 10,3%. Nem o bom crescimento do algodão, de 10,8%, compensou as perdas dos dois grãos principais. E o Focus avalia que, no ano de 2024, o PIB do agro cairá 1,5% em relação ao do ano passado.
Pior que isso foram os incêndios criminosos que destruíram lavouras, pastagens e áreas de conservação em diversos Estados do Sudeste e Centro-Oeste, afetando duramente a economia rural regional e destruindo empresas saudáveis. Uma tragédia inimaginável.
Mas como nem tudo está perdido, tivemos uma grande notícia. Na quarta-feira passada, o Senado aprovou o projeto de lei conhecido como “Combustível do Futuro“, um espetacular avanço para a economia brasileira quanto à nossa matriz energética. A lei amplia a mistura do etanol na gasolina (até 35% ao longo do tempo) e do biodiesel no diesel (dos atuais 14% para até 25% depois de 2031), dependendo da avaliação do CNPE.
As companhias aéreas deverão reduzir suas emissões de GEE em 10% até 2037. O projeto, que ainda será votado na Câmara Federal, deve ser um “case” maravilhoso a ser exibido na COP-30 que acontece no ano que vem em Belém do Pará.
A festejar também, a resiliência dos ipês amarelos, florescendo esplendorosamente, mesmo com a seca inclemente, o incêndio criminoso, o PIB cadente e o civismo esquecido (Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura é professor emérito da Fundação Getúlio Vargas; Estadão, 8/9/24)